Foi um dos primeiros rostos da guerra que dividiu Moçambique. Quase cinco décadas depois, o general Sebastião Chapepa, conhecido nos meandros da guerrilha como Janota Luís, rompe o silêncio com duras críticas à atual liderança da Renamo. Num testemunho carregado de memórias e desilusão, Chapepa acusa a direcção atual do partido de ter-se desviado dos princípios fundadores da organização e defende que Ossufo Momade deve abandonar a liderança.
“Viemos cinco jovens. Chegamos a Moçambique e os meus colegas começaram a temer. Eu é que era o comandante deles. Mandei regressar três e ficámos nós dois: eu e o André Matsangaíssa”, recorda.
Era 3 de Fevereiro de 1977 quando protagonizou, segundo conta, a primeira emboscada da Renamo, no bairro Vumba, distrito de Manica, disparando contra um autocarro em movimento com o objetivo de recrutar jovens combatentes.
No dia seguinte, Chapepa foi capturado pelas Forças Populares de Libertação de Moçambique, no bairro Chinhambudzi. “Reconheceram que eu estive com eles na luta armada. Disseram que não tinham outro meio senão fuzilar. Eu disse que estava bem. Deus ajudou-me e estou aqui hoje”, conta. Sobreviveu e, mais tarde, voltou a reencontrar Matsangaíssa em território zimbabweano, na esquadra da Polícia de Penhalonga, antes de seguirem para o quartel da Renamo em Mutare.
Chapepa foi também locutor da rádio Voz da África Livre, canal estratégico para o recrutamento de jovens, entre os quais Afonso Dhlakama, que se juntaria ao movimento em agosto de 1977 como chefe da logística militar.
Hoje, 48 anos depois do início do conflito, o general diz que a Renamo perdeu o rumo. “A crise actual é porque há pessoas que não sabem como a Renamo começou. São ambiciosos. Está aí o general Corola, que uma vez furou-se o pé com a própria pistola para não cumprir missão e hoje é Chefe de Estado-Maior em Manica. São os que defendem Ossufo Momade na televisão”, lamenta.
Para Chapepa, a solução é clara: convocar o Conselho Nacional do partido e agendar um congresso para eleger nova liderança. “Ossufo Momade não pode continuar. Deve ser colocado noutro cargo, longe da linha da frente. O que faz de errado é estar calado, não se movimenta. Recebe dinheiro e fica a fazer 'viva viva' em Maputo”, criticou.
Enquanto isso, a sede provincial da Renamo em Manica permanece encerrada, num silêncio que simboliza, segundo Chapepa, a paralisia que tomou conta do partido que ajudou a fundar.
Fonte: O país