Maputo, 2 de Junho de 2025 — No Dia Internacional da Criança, o Presidente da República, Daniel Chapo, voltou a reiterar o compromisso do Governo moçambicano com a protecção da infância, evocando uma visão poética das crianças como "flores que nunca murcham". A mensagem presidencial, embora carregada de simbolismo e intenções nobres, levanta questões cruciais quando confrontada com a dura realidade que muitas crianças enfrentam no país.
Na sua comunicação, Chapo apelou ao envolvimento activo de famílias, educadores, líderes comunitários e religiosos, destacando que a missão de proteger a criança é colectiva. Contudo, os desafios estruturais continuam a ser evidentes. Em várias províncias, as escolas funcionam sem carteiras, sem água potável e com professores em número insuficiente. Nos centros de saúde, a taxa de mortalidade infantil ainda é alarmante, agravada por falta de medicamentos e assistência adequada.
A retórica do Governo contrasta com estatísticas divulgadas por organizações como a UNICEF e o Instituto Nacional de Estatística (INE), que apontam para níveis preocupantes de desnutrição crónica, abandono escolar e casos de abuso infantil. Em zonas rurais e periurbanas, há crianças que percorrem quilómetros a pé para chegar à escola e outras que abandonam os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família — uma prática ilegal, mas frequentemente ignorada.
Apesar dos programas sociais anunciados em discursos oficiais, como o subsídio à primeira infância ou a promessa de novas infra-estruturas escolares, a sua implementação é lenta e, muitas vezes, limitada a zonas urbanas. A fiscalização e responsabilização dos agentes do Estado também continuam a ser fracas, o que contribui para a perpetuação de práticas negligentes e corrupção em projectos destinados à infância.
A mensagem presidencial, embora inspiradora, acaba por soar vazia para muitas famílias que vivem à margem dos serviços públicos. Sem medidas concretas e visíveis, o compromisso com a protecção da criança corre o risco de se tornar apenas uma formalidade anual — um ritual de palavras bonitas sem reflexo palpável na vida das “flores” que o Estado promete cuidar.
Num momento em que o país enfrenta desafios económicos, insegurança no norte e um sistema de protecção social ainda precário, é urgente que o discurso político se traduza em acções firmes, orçamentadas e monitoradas. Proteger a infância não pode ser apenas uma missão poética: é um dever constitucional, moral e urgente.
Créditos: ChatGPT
Categoria:
sociedade