Por Jornal Creator
Durante o simpósio que assinalou os 50 anos de independência de Moçambique e os 63 anos da Frelimo, o académico Hélder Jauana fez duras críticas à situação interna do partido no poder, denunciando o que chamou de “assassinato de caráter” entre membros e o domínio das elites financeiras sobre os órgãos de decisão.
No último painel do evento, realizado esta quinta-feira na cidade de Maputo, Jauana comparou a liderança política à postura de Jesus Cristo, que escolheu trabalhar com “pescadores e cobradores de impostos” e não com elites, sublinhando que “o verdadeiro líder deve ter capacidade de ouvir, aprender e mudar o mundo”.
Segundo o académico, esta lógica está longe de ser aplicada na actual configuração da Frelimo. “Há luta de interesses de grupo e assassinato entre os próprios membros, principalmente em períodos eleitorais, onde a tribo, que se diz ter sido combatida, é resgatada com discursos de exclusão e corrupção interna baseada em quem paga mais”, afirmou.
Jauana apontou ainda para a ausência de representantes das massas nos órgãos do partido. “Se olharmos para a Comissão Política e o Comité Central, não encontramos camponeses ou representantes do povo simples. Estes órgãos estão controlados por aqueles que têm dinheiro e poder, o que influencia a composição do próprio Estado”, frisou.
Durante o debate, o académico também apelou à responsabilidade social dos dirigentes: “Cada barriga de fome que vemos na televisão é resultado da forma como governamos. O poder é efémero, e quem governa hoje pode ser tratado amanhã como tratou os mais desfavorecidos.”
Jauana defendeu ainda a criação de um pacto de regime para combater a corrupção.
No mesmo painel, o pesquisador Calton Cadeado apelou a um maior investimento na “diplomacia do cidadão”, destacando o papel positivo de moçambicanos na diáspora, como a atleta Lurdes Mutola, e o contributo histórico dos estudantes moçambicanos no exterior.
O simpósio foi encerrado com várias intervenções que refletiram os desafios actuais e as oportunidades futuras do país.