A narrativa que levou a Sevilha destaca uma estratégia ambiciosa de financiamento climático até 2035, defende parcerias globais justas e fala em inclusão económica. No entanto, é impossível ignorar o vazio gritante em relação às profundas crises sociais, económicas e políticas que hoje corroem Moçambique. O Presidente omitiu deliberadamente a realidade dos cortes brutais em setores fundamentais como saúde, educação, proteção social, e o apoio às populações mais vulneráveis — incluindo mulheres, crianças, pessoas com deficiência e comunidades rurais.
Não houve uma única menção à crescente precarização dos serviços públicos, ao aumento do custo de vida, nem à desconfiança generalizada sobre a transparência na gestão dos recursos públicos, agravada por escândalos de corrupção e desvio de fundos destinados justamente ao financiamento do desenvolvimento. Chapo também silenciou sobre os efeitos sociais da militarização de regiões inteiras do país e sobre as crescentes restrições ao espaço cívico, à liberdade de expressão e aos direitos humanos — fatores que contradizem o seu apelo por “inclusão e justiça económica”.
Ao apresentar um país estável, verde e preparado para liderar, o Presidente fabricou uma imagem que não resiste à mínima verificação dentro das fronteiras moçambicanas. A omissão não é neutra — é estratégica. É o encobrimento de uma política interna que se distancia dos compromissos assumidos nos fóruns internacionais. Um líder que ignora deliberadamente as feridas abertas em casa enquanto busca aplausos lá fora, acaba por trair tanto o seu povo quanto os princípios da diplomacia honesta.
Neste momento histórico em que se debate o futuro do financiamento ao desenvolvimento, Moçambique teria muito a ensinar ao mundo — não com discursos ensaiados, mas com um exemplo verdadeiro de transparência, responsabilidade social e coragem política para enfrentar as suas próprias falhas. Infelizmente, não foi isso que se ouviu em Sevilha.
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Política