
Durante a cerimónia de deposição da coroa de flores na Praça dos Heróis, por ocasião do Dia Internacional da Função Pública, o Secretário de Estado da Cidade de Maputo fez uma rara admissão: corrupção e burocracia ainda travam a eficiência da máquina pública moçambicana.
Num discurso carregado de simbolismo, o governante revelou que a capital do país conta com cerca de 19.700 funcionários públicos, sublinhando que estes são o pilar essencial do funcionamento institucional do Estado.
Contudo, por trás das cifras e das homenagens, esconde-se uma realidade desmotivadora para muitos servidores: a progressão na carreira continua um privilégio reservado a poucos. Para a maioria, a evolução funcional não obedece critérios claros de mérito, mas sim dinâmicas políticas, favoritismos ou simples estagnação administrativa.
Funcionários ouvidos no local confirmam o clima de frustração. Muitos relatam que trabalham há anos sem qualquer promoção ou reconhecimento formal, apesar de cumprirem fielmente as suas funções. “Entrar é difícil, crescer é quase impossível”, lamenta um técnico médio com mais de 15 anos de serviço.
A celebração do Dia da Função Pública, longe de ser apenas festiva, transformou-se numa oportunidade para refletir sobre as falhas internas do sistema. O próprio Secretário de Estado reconheceu que há necessidade urgente de reformas profundas que garantam valorização, meritocracia e justiça no seio da Administração Pública.
Em tempos em que se exige mais eficiência e integridade dos servidores do Estado, a estagnação funcional e a falta de incentivos estão a corroer o moral dos trabalhadores públicos — os mesmos que, diariamente, mantêm os serviços de saúde, educação, justiça, segurança e infraestrutura a funcionar.
CRÍTICAS E REFLEXÃO:
🔺 Meritocracia ou lealdade política?A ausência de critérios objetivos na progressão de carreira mina o espírito público e reforça o clientelismo.
🔺 Serviço Público precisa de motivação real:
Sem valorização concreta, os discursos em datas comemorativas tornam-se ocasiões ocas e desconectadas da realidade do trabalhador comum.
🔺 Corrupção e burocracia: inimigos antigos
Admiti-los é um primeiro passo. Combatê-los exige vontade política, coragem institucional e pressão social.
Categoria:
sociedade