Historiador britânico desmonta narrativa de vitória militar da FRELIMO sobre Portugal

 


A versão oficial ensinada nas escolas moçambicanas — de que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) derrotou militarmente o exército colonial português durante a luta de libertação nacional — está a ser publicamente contestada por fontes académicas internacionais.

O historiador britânico Malyn Newitt, uma das maiores autoridades em história africana e colonial, aponta que a descolonização de Moçambique não foi o resultado direto de uma vitória militar da FRELIMO, mas sim consequência da Revolução dos Cravos, que eclodiu em Portugal em 25 de abril de 1974. Segundo ele, a revolução provocou instabilidade nas forças armadas portuguesas e uma reviravolta política que conduziu à independência das colónias.

Newitt escreve:

 “A revolução de Abril trouxe a confusão e o caos a Moçambique. As unidades militares começaram a recusar-se a combater e, em muitas zonas, teve lugar confraternização com os guerrilheiros da FRELIMO.”


Essa afirmação sugere que a retirada portuguesa e a entrega do poder à FRELIMO foram mais fruto de uma decisão política em Lisboa do que de uma derrota no campo de batalha em Moçambique.

O pesquisador defende que o colapso do regime salazarista e o forte movimento anti-guerra dentro das próprias Forças Armadas portuguesas foram decisivos para o fim da colonização. De facto, após o 25 de abril, o novo governo português iniciou negociações com movimentos de libertação, resultando nos Acordos de Lusaka e na declaração de independência de Moçambique a 25 de junho de 1975.

As declarações de Newitt levantam questões importantes sobre como a história é ensinada e contada em Moçambique, e alimentam o debate sobre a necessidade de uma abordagem mais crítica e plural na reinterpretação da história nacional — uma história que, para muitos estudiosos, ainda carece de reavaliações profundas à luz de documentos e testemunhos internacionais.

A discussão pode reacender o apelo por uma reforma nos currículos escolares e nos discursos oficiais, para que reflitam de forma mais fiel os múltiplos fatores que levaram à independência de Moçambique.


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