Moçambique atravessa uma grave escassez de divisas que ameaça o funcionamento de vários sectores da economia nacional, com destaque para o comércio, indústria, transporte e aviação. A crise cambial, que se intensificou desde o final de 2024, tem dificultado as importações e causado apreensão tanto em empresas formais quanto no sector informal.
O Governo assinou recentemente um acordo com a multinacional Vitol para assegurar o fornecimento de combustíveis durante os próximos 12 meses, através de um financiamento de 600 milhões de dólares. Embora a medida tenha aliviado a situação do sector dos combustíveis, o sector privado alerta que a crise de divisas continua a afectar fortemente outras áreas económicas.
As autoridades monetárias acusam alguns empresários de reterem grandes volumes de moeda estrangeira, principalmente dólares, enquanto os empresários responsabilizam os bancos comerciais por não disponibilizarem as divisas necessárias.
Importadores informais, como Deolinda Machiane, relatam dificuldades constantes para adquirir rands nas instituições bancárias, sendo forçados a recorrer ao mercado negro, onde assumem riscos adicionais, como assaltos e aquisição de moeda falsa.
O Presidente da Associação dos Mukheristas, Sudecar Novela, denuncia atrasos nas transferências bancárias internacionais, que em muitos casos demoram semanas ou meses, comprometendo os negócios e a credibilidade com fornecedores estrangeiros.
Por sua vez, as Pequenas e Médias Empresas também enfrentam dificuldades. Ângelo Macassa, representante da CTA para as PME, destaca que muitos empreendedores da indústria e comércio não conseguem importar matéria-prima, peças de reposição e contratar técnicos estrangeiros devido à falta de divisas.
O vice-presidente do Pelouro de Política Monetária e Serviços Financeiros da CTA, Egas Daniel, alerta que, se o problema não for solucionado rapidamente, Moçambique poderá enfrentar escassez de produtos no mercado e pressão inflacionária, sobretudo durante a quadra festiva.
Apesar de alguma estabilidade momentânea no fornecimento de combustíveis, o Governo continua pressionado a encontrar soluções sustentáveis para a crise cambial e garantir o normal funcionamento da economia.