O país conquistou a sua soberania formal, mas logo passou a viver sob forte tutela económica de instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Condicionamentos externos moldam políticas internas, determinam orçamentos, impõem reformas, muitas vezes contrárias às reais necessidades do povo moçambicano. Grandes multinacionais, vindas do Ocidente ou do Oriente, extraem os recursos naturais do país — gás, carvão, minerais — deixando atrás de si comunidades despojadas, destruição ambiental e promessas não cumpridas. A riqueza continua a sair do país, tal como no período colonial, agora sob contratos que beneficiam uma minoria privilegiada.
Internamente, o quadro político também levanta preocupações. A independência deu lugar a um poder centralizado, dominado por uma elite que, ao longo dos anos, consolidou-se como nova classe dominante. A alternância política é fraca, os mecanismos de fiscalização são frágeis, e o aparelho de Estado serve mais aos interesses do partido no poder do que ao cidadão comum. A repressão contra vozes críticas, o controle sobre a justiça, e o uso de recursos públicos para fins partidários são sinais de que o espírito libertador foi sequestrado. O colonizador estrangeiro foi substituído por uma elite nacional que utiliza as mesmas ferramentas de dominação: exclusão, controlo, clientelismo e silenciamento.
Moçambique é hoje, para muitos, uma colónia moderna — submetida a forças externas no plano económico e a um sistema interno que perpetua a desigualdade. A independência tornou-se simbólica, celebrada mais como ritual do que como realidade. O povo, esse sim, continua colonizado: pela pobreza, pela corrupção, pela falta de oportunidades e pela ausência de um Estado verdadeiramente popular.
Dizer que “Moçambique só mudou de colónia” não é exagero. É, talvez, uma das formas mais sinceras de descrever uma independência inacabada. A libertação verdadeira — política, económica e social — continua por fazer. E não será obra de partidos, mas de cidadãos conscientes, informados e dispostos a reconstruir o país, livre de qualquer dominação, seja ela estrangeira ou doméstica.