A RENAMO vive um dos momentos mais tensos da sua história recente, com divisões internas a céu aberto e disputas pela legitimidade da liderança a marcar a cena política do partido. O mais recente episódio dessa crise foi protagonizado durante o encontro organizado pela Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE), em Maputo, que culminou com a controversa “Declaração de Maputo”.
Longe de promover reconciliação, o evento expôs profundas fissuras entre as diversas alas do partido. Tensões, críticas veladas e confrontos abertos dominaram os discursos. O jurista Arnaldo Chalaua, presidente do Conselho Jurisdicional Nacional da RENAMO, foi categórico ao reafirmar a sua fidelidade aos princípios estatutários do partido, rejeitando qualquer ingerência externa.
“Não estamos aqui para cumprir agendas estranhas. A RENAMO tem estatutos e órgãos próprios. A minha função é zelar pela legalidade dos actos do partido. Se isso for interpretado como mau aconselhamento ou como defesa do presidente da RENAMO, então estou cumprindo correctamente o meu dever”, afirmou Chalaua, num discurso que também trouxe críticas à imprensa e sectores da opinião pública, acusados de fomentar instabilidade.
A sua publicação nas redes sociais reacendeu o debate. “Aos que querem continuar, especialmente os jornalistas que apadrinham a desordem organizada e promovem agendas ocultas, que não abrirei aqui boa sorte. Continuem a manipular à moda ‘Moyana’”, escreveu.
Enquanto isso, vozes críticas continuam a manifestar descontentamento com a liderança de Ossufo Momade. Orlando Cuna, antigo guerrilheiro da RENAMO, não poupou palavras: “Aquilo ali não era nada, era festa. A luta vai continuar porque o povo não lhe quer”, disparou, revelando um sentimento de revolta que parece ecoar entre antigos combatentes e membros da base.
Momade, por sua vez, reafirmou que permanecerá na liderança, por ter sido eleito de forma legítima. Ainda assim, muitos consideram que a “Declaração de Maputo” — apesar de anunciada como um plano estratégico — foi mais uma encenação política do que uma tentativa concreta de unir o partido.
A RENAMO, herdeira de uma longa luta armada e símbolo da oposição política em Moçambique, enfrenta agora um dilema existencial: manter-se fiel à sua estrutura tradicional ou renovar-se perante uma base cada vez mais insatisfeita. Com a crise longe de ser resolvida, o futuro do partido permanece incerto, num ambiente de crescente polarização e desconfiança interna.