Num país que celebra 50 anos de independência, a verdadeira batalha parece não ser mais contra o colono, mas contra os próprios filhos da pátria. Os cofres públicos moçambicanos continuam a ser saqueados — e não por desconhecidos — mas por altos dirigentes do Estado que juraram defendê-los.
As denúncias de corrupção institucional em Moçambique são cada vez mais frequentes. O sistema de justiça é questionado, a igreja é suspeita, e as eleições são vistas como peças de teatro encenadas por juízes, padres e presidentes de comissões eleitorais. A recente menção ao bispo Carlos Matsinhe, alegadamente cúmplice em fraudes eleitorais, acendeu o alerta: até onde vai o envolvimento das instituições religiosas no jogo do poder?
É preciso lembrar: Jesus foi traído por Judas, entregue pelo sumo-sacerdote. Assim como Samora Machel, símbolo da libertação moçambicana, morreu num contexto ainda hoje cercado de suspeitas de traição interna. Os nomes mudam, mas o padrão repete-se.
Hoje, quem ocupa o Palácio da Ponta Vermelha, segundo críticos, sabe que não chegou lá sozinho. Magistrados e figuras da justiça — supostos guardiões da legalidade — facilitaram o caminho, ignorando denúncias, reprimindo protestos e silenciando vozes.
E enquanto a elite política e religiosa celebra com champanhe, o povo come restos. O padre que prega moral é, às vezes, o mesmo que quebra lares. O líder comunitário que clama ética é o mesmo que beneficia de fundos desviados. O feiticeiro, como se diz popularmente, é da família. O ladrão raramente vem de fora.
Essa realidade dura levanta uma questão: a quem o povo confiaria o futuro do país?
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OPINIÃO | CRÍTICA POLÍTICA