Nampula, Moçambique — 31 de Maio de 2025
Num ambiente de crescente frustração popular, a cidade de Nampula assistiu, neste sábado (31), a mais um episódio de repressão policial a uma tentativa de manifestação pacífica contra a prolongada escassez de combustível que assola o país há mais de dois meses. A Polícia da República de Moçambique (PRM) impediu que o protesto, organizado por jovens ativistas e defensores dos direitos humanos, seguisse o seu curso, apesar dos organizadores garantirem o cumprimento rigoroso da legalidade.
A marcha estava marcada para começar nas primeiras horas da manhã no mercado grossista do Waresta — o maior centro comercial do norte do país — e previa um trajeto por várias ruas centrais de Nampula. No final, os manifestantes pretendiam entregar um pedido formal de esclarecimentos ao governo provincial, exigindo respostas urgentes sobre a crise energética e o silêncio ensurdecedor das autoridades.
Em vez disso, os ativistas encontraram um forte aparato policial no local de concentração. A PRM, embora tenha reconhecido o direito constitucional à manifestação, alegou novamente a “falta de condições de segurança” para justificar a sua intervenção, uma explicação que muitos consideram genérica e politicamente motivada.
“Cumprimos todos os trâmites legais. Informámos as autoridades com antecedência e tínhamos uma rota definida. Mas mais uma vez nos calaram”, afirmou um dos organizadores, sob anonimato por receio de represálias. “Não é apenas sobre combustível. É sobre dignidade, é sobre sermos ouvidos.”
Nas redes sociais, vídeos e fotos da mobilização frustrada circularam rapidamente, acompanhados de críticas à atuação da polícia e acusações de parcialidade institucional. Muitos internautas acusaram a PRM de agir em conivência com o partido no poder, a FRELIMO, impedindo manifestações que possam manchar a imagem do governo num momento politicamente sensível.
Além do combustível, a crise já começa a impactar seriamente outros setores da vida quotidiana. Em Cabo Delgado e Nampula, o transporte coletivo está comprometido, o preço dos alimentos disparou, e pequenos comerciantes relatam perdas diárias por falta de mercadoria e energia.
Até o momento, o governo central permanece em silêncio oficial sobre as causas e a duração prevista da crise, alimentando ainda mais o descontentamento popular.
“Não somos criminosos. Somos cidadãos a exigir explicações. Esta repressão só reforça o abismo entre o povo e o poder”, concluiu outro manifestante, que teve o seu cartaz rasgado pelos agentes.
Com o agravamento da crise e a censura recorrente a vozes dissidentes, cresce a tensão social num país que, mais uma vez, se vê dividido entre a promessa democrática e a prática autoritária.
Categoria:
Política e Sociedade