Moçambique vive uma das suas piores crises humanitárias das últimas décadas, com cerca de 4,3 milhões de cidadãos a necessitar de assistência urgente e protecção até ao fim de 2025. O alerta foi lançado pelo Grupo de Segurança Alimentar das Nações Unidas, que denuncia também graves falhas no financiamento internacional para responder à emergência.
O relatório, liderado conjuntamente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e pelo PAM (Programa Alimentar Mundial), atribui o cenário dramático a dois factores principais: os ataques terroristas no norte do país, que já afectaram mais de 763 mil pessoas, e eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e ciclones tropicais, que deixaram mais de 3,5 milhões de moçambicanos em situação de vulnerabilidade.
Em Abril deste ano, mais de 461 mil pessoas estavam deslocadas internamente em consequência do conflito armado nas províncias do norte, enquanto 701 mil retornavam às suas zonas de origem sem garantias mínimas de segurança alimentar ou acesso a serviços básicos.
O cenário tende a agravar-se. A última análise da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), divulgada em Janeiro, prevê que quase 5 milhões de moçambicanos enfrentarão níveis críticos de insegurança alimentar (Fase 3 ou superior) no período entre Outubro de 2024 e Março de 2025.
Apesar da dimensão da crise, os apoios financeiros são escassos: dos 392 milhões de dólares necessários para assistir 2,16 milhões de pessoas, apenas 11% foram efectivamente desembolsados até agora, revelou o relatório.
Organizações humanitárias alertam para o risco de colapso total das redes de apoio alimentar nas zonas mais afectadas, caso não haja uma resposta internacional rápida, coordenada e solidária.
Moçambique, que já enfrenta desafios estruturais profundos, como pobreza extrema e fraca capacidade institucional, vê-se assim empurrado para uma emergência prolongada, onde milhões correm o risco de morrer de fome, doenças e violência.
A solidariedade global, neste momento, não é uma opção — é uma obrigação moral.