Ramaphosa expõe crise interna dos partidos de libertação e rejeita culpar mão externa


O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, fez duras críticas aos próprios partidos de libertação da África Austral, afirmando que os seus maiores problemas não vêm de forças externas, mas sim de dentro dos próprios movimentos. A declaração foi feita durante uma cimeira de dois dias realizada em Kempton Park, província de Gauteng, e reuniu os partidos FRELIMO (Moçambique), MPLA (Angola), ZANU-PF (Zimbábue), SWAPO (Namíbia), Chama Cha Mapinduzi (Tanzânia) e o próprio ANC, anfitrião do evento.

Segundo Ramaphosa, a corrupção e o clientelismo corroeram a força moral e organizacional dos partidos, prejudicando a resposta às necessidades do povo. Ele sublinhou que a juventude atual está mais focada nas falhas dos líderes do que nas vitórias da luta de libertação.

“A competição por cargos e recursos destruiu a nossa capacidade de servir o povo”, lamentou o presidente.

Ramaphosa chamou a atenção para o desapontamento crescente entre os jovens, afirmando que eles não devem ser vistos como uma ameaça, mas sim como um sinal de esperança e mudança necessária. Pediu que as ligas juvenis deixem de ser simbólicas e passem a liderar ideologicamente com inovação, activismo e organização.

O estadista também reconheceu que existem tentativas de desestabilização externa, mas alertou que estas ganham força devido às legítimas frustrações internas. Ele mencionou a presença de neocolonialismo, unilateralismo e exploração económica estrangeira, mas reafirmou que a fraqueza dos Estados africanos começa com os seus próprios erros.

Outro ponto importante foi o apelo pela emancipação feminina, frisando que não há liberdade completa sem a libertação das mulheres. Ramaphosa defendeu o acesso igualitário à educação, trabalho digno e salário justo, além de combater a violência baseada no género.

Sobre migração e xenofobia, ele foi enfático:

“Devemos rejeitar a militarização da migração. A migração é consequência de guerras e desigualdades, não uma falha moral”.

No encerramento, destacou que a África precisa deixar de exportar matérias-primas e investir em processamento local, industrialização e integração regional. Segundo ele, o continente só prosperará quando for capaz de transformar os seus próprios recursos em produtos acabados, sem depender de indústrias distantes.

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