O ministro da Defesa de Moçambique, Cristóvão Chume, elogiou no domingo (24.08) o papel das forças ruandesas no combate à insurgência em Cabo Delgado, afirmando que estas “ajudam significativamente” a restaurar a estabilidade na província. Segundo Chume, a presença militar de Kigali tem permitido que populações deslocadas regressem às suas comunidades de origem.
Em comunicado, o Governo do Ruanda confirmou que recebeu a visita oficial de Chume, que reuniu-se com o ministro da Defesa, Juvenal Marizamunda, e o chefe do Estado-Maior General MK Mubarakh. O encontro, segundo Kigali, teve como objetivo “fortalecer a cooperação de defesa e segurança”, destacando Ruanda como parceiro central de Moçambique também em áreas de desenvolvimento socioeconómico.
Desde 2017, Cabo Delgado enfrenta ataques armados reivindicados por grupos ligados ao Estado Islâmico. Mais de dois mil soldados ruandeses estão presentes na província desde 2021, protegendo inclusive a área do megaprojeto de gás natural da TotalEnergies. A presença militar foi reforçada em 2024, após a retirada gradual da missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
O apoio externo à missão ruandesa ganhou força também na Europa. Em novembro de 2024, a União Europeia aprovou um financiamento adicional de 20 milhões de euros, classificando o destacamento como “fundamental” no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
Apesar dos avanços, uma nova vaga de ataques desde julho já provocou mais de 57 mil deslocados no distrito de Chiúre e arredores. Só em julho, pelo menos 29 pessoas morreram e mais de 208 mil foram afetadas pela violência, de acordo com a ONU. Dados do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS) revelam que, apenas em 2024, 349 pessoas foram mortas em ataques de insurgentes em Cabo Delgado, um aumento de 36% em relação ao ano anterior.
Enquanto Maputo reforça os laços militares com Kigali, surgem críticas e questionamentos sobre o papel do Ruanda na região. Observadores recordam que o mesmo país é acusado de apoiar o grupo rebelde M23 na República Democrática do Congo, gerando desconfiança sobre se Kigali está a fazer um “jogo duplo”: combater o extremismo em Moçambique enquanto alimenta conflitos noutros pontos de África.