Estado inicia venda de 170 imóveis dos Correios de Moçambique, incluindo a sede, preços definidos por empresa ligada a Celso Correia


O processo de liquidação da empresa pública Correios de Moçambique, iniciado em 2021, entrou agora na sua fase final com a colocação à venda de 170 imóveis espalhados pelo país. Entre os bens disponíveis está o emblemático edifício-sede da empresa, símbolo histórico de décadas de serviço postal no país.

A venda está a ser coordenada pela consultora imobiliária Broll, através de concurso público. Os preços foram fixados pela empresa Intellica, ligada ao ministro Celso Correia, o que levanta questões sobre a independência no processo de avaliação patrimonial. Uma das estações dos correios foi colocada no mercado ao preço de 7 milhões de meticais, sinalizando o valor potencial dos imóveis agora em alienação.

O Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) afirma que trabalhou com consultoras especializadas para garantir transparência em todo o processo. Segundo o IGEPE, o objetivo é maximizar o retorno dos ativos, reorientando os fundos obtidos para áreas consideradas prioritárias para o desenvolvimento nacional.

Entre os imóveis estão sedes distritais, instalações técnicas e prédios comerciais em zonas nobres das cidades de Maputo, Beira e Nampula. A maior parte das infraestruturas encontra-se subutilizada desde a paralisação das atividades da empresa, agravada pela falta de adaptação tecnológica e défice operacional ao longo dos anos.


Com este passo, o Governo encerra definitivamente um capítulo da história postal do país, substituindo um modelo de serviço público tradicional por uma estratégia de gestão patrimonial mais comercial. No entanto, o envolvimento de figuras próximas ao poder na definição de preços gera críticas quanto à lisura e ao benefício público do processo.

Enquanto o Estado garante que a alienação respeita os princípios de legalidade e transparência, diversos setores da sociedade civil acompanham com atenção a evolução do processo, questionando se os valores arrecadados irão, de facto, beneficiar a população ou apenas reforçar interesses privados dentro da elite política e empresarial.

O encerramento dos Correios de Moçambique representa não apenas o fim de uma empresa pública, mas também um teste à forma como o Estado gere os seus bens comuns em tempos de austeridade e crise de confiança nas instituições públicas.


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