De quase 300 cidadãos angolanos que fugiram da guerra na Ucrânia, apenas 30 aceitaram retornar ao país. A escolha de permanecer no estrangeiro, mesmo diante de um conflito, diz muito sobre o estado de Angola, um dos países mais ricos em recursos de África, mas onde a população vive sob condições extremamente difíceis.
Recentemente, Angola enfrentou novos tumultos, originados por uma greve de taxistas, mas que rapidamente evoluíram para protestos mais amplos contra o custo de vida, a fome, o desemprego e a falta de esperança. No entanto, esses acontecimentos passaram praticamente despercebidos em Portugal e na imprensa internacional.
Apesar da pompa com que o Presidente João Lourenço foi recebido em Lisboa, a realidade em Angola é marcada pela miséria generalizada. Lourenço realizou mais de 120 viagens oficiais, com comitivas que chegam a 150 pessoas, num custo que já ultrapassa mil milhões de dólares — um contraste gritante com a situação interna do país.
O novo aeroporto internacional de Luanda, um megaprojeto milionário, continua praticamente subutilizado, enquanto o setor da aviação angolana decai ano após ano.
Para muitos analistas, a falta de indignação global face à crise humanitária em Angola revela uma hierarquia seletiva de empatia. Situações graves em países africanos, como Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau, raramente geram movimentos internacionais, hashtags solidárias ou campanhas de pressão.
O texto sugere que apenas quando Angola for tratada como Gaza — quando as atenções do mundo forem voltadas para o sofrimento do povo angolano com o mesmo fervor que em outras crises — é que o país poderá aspirar a verdadeira mudança.
A crítica aponta ainda para uma elite que vive de forma luxuosa, sustentada por um sistema que extrai recursos públicos, enquanto grande parte da população segue sem acesso a saúde, educação ou alimentação adequada.
O autor conclui que o verdadeiro reconhecimento que Portugal e o mundo deveriam oferecer é ao “estado real” de Angola: o de um país esgotado por décadas de má governação e corrupção institucionalizada.
Fonte:
Ampe Rogério / Lusa