A Rede Moçambicana dos Defensores de Direitos Humanos (RMDDH) emitiu uma nota de repúdio condenando o alegado atentado à vida da jornalista moçambicana Selma Inocência, que foi vítima de envenenamento durante uma visita de trabalho à cidade de Maputo, em Março de 2025.
A denúncia foi feita pela própria jornalista no dia 27 de Julho, revelando que os testes toxicológicos realizados em Berlim, onde reside actualmente, detectaram níveis elevados de metais pesados no seu organismo, incluindo mercúrio, urânio, cádmio, tálio e estanho — substâncias frequentemente associadas a envenenamentos industriais e letais.
Selma é conhecida por seu trabalho crítico e investigativo na área dos direitos humanos e denúncias contra abusos de poder. A sua viagem a Moçambique, entre os dias 2 e 6 de Março, incluía a participação numa formação para jornalistas locais, mas foi interrompida prematuramente por razões de segurança. Após regressar à Alemanha, Selma começou a manifestar sintomas graves, como fadiga extrema, dores de cabeça intensas, tonturas e perda de mobilidade, estando agora sob tratamento intensivo e sem condições de continuar a sua actividade profissional.
Para a RMDDH, este caso representa um episódio grave num cenário cada vez mais repressivo em Moçambique, onde jornalistas, activistas e defensores de direitos humanos enfrentam riscos crescentes, especialmente após as eleições gerais de Outubro de 2024. A organização denuncia uma escalada de repressão estatal, marcada por detenções arbitrárias, censura, violência contra manifestantes pacíficos e ataques diretos contra a liberdade de imprensa.
Perante este cenário, a RMDDH exige uma investigação urgente, independente e transparente que identifique tanto os autores materiais como os possíveis mandantes do envenenamento. A entidade sublinha que jornalistas são defensores de direitos humanos e que a sua segurança deve ser uma prioridade do Estado.
“O envenenamento de Selma Inocência é um alerta gravíssimo. Ninguém que ousa dizer a verdade deve viver com medo ou sob ameaça. Isso é inaceitável”, conclui a nota.