Por Jornal Creator
Num momento decisivo para o futuro político de Moçambique, o Presidente da República, Daniel Chapo, reuniu-se na noite de terça-feira com Venâncio Mondlane, candidato às eleições presidenciais de Outubro de 2024. O encontro, descrito como respeitoso e patriótico, insere-se numa série de audiências com diversos sectores da sociedade no âmbito do compromisso com o diálogo nacional inclusivo. No entanto, por trás da cordialidade institucional, permanecem desafios e desconfianças que não podem ser ignorados.
Chapo reforçou a narrativa de paz e reconciliação, sustentando que "dialogar, dialogar, dialogar" é a via para consolidar a estabilidade. A repetição da palavra parece revelar mais do que intenção – talvez uma tentativa de fixar um discurso que ainda luta por se materializar na prática. O Presidente recordou o Compromisso Político de 5 de Março e enfatizou que a paz é condição essencial para o desenvolvimento. Contudo, a insistência no diálogo como panaceia pode ocultar a lentidão na resolução de questões sensíveis como as detenções políticas e a violência pós-eleitoral.
Por seu lado, Venâncio Mondlane não poupou críticas, mesmo sob o tom conciliador do encontro. Classificou a audiência como “produtiva”, mas não escondeu a preocupação com a falta de respostas concretas sobre detenções arbitrárias e a crescente violência registada após o simbólico aperto de mão de 23 de Março. Mondlane entregou um relatório à Procuradoria-Geral da República, exigindo esclarecimentos sobre os episódios de agressão e intimidação política, questionando se se tratam de casos isolados ou de uma acção premeditada. A ausência de respostas claras continua a alimentar dúvidas quanto à real eficácia do processo de diálogo.
Apesar de terem alcançado entendimento sobre seis pontos de agenda e definido datas e responsáveis para seguimento, Mondlane alertou para a necessidade de vigilância e monitoramento constante dos compromissos assumidos. O risco de o diálogo tornar-se meramente simbólico – sem impacto prático – ainda está em cima da mesa.
A postura do Presidente Chapo, ao manter os canais de escuta abertos, é vista como positiva, mas também levanta suspeitas sobre motivações eleitorais. Em vésperas de uma disputa presidencial, o gesto de aproximação aos candidatos pode ser interpretado como uma estratégia para suavizar tensões e consolidar apoio, mais do que um verdadeiro esforço para resolver problemas estruturais do país.
No fim, o encontro reafirma uma vontade política de diálogo, mas expõe as fragilidades de um processo que ainda precisa de provas concretas para além das palavras. O cenário político moçambicano continua marcado por tensões, e a paz, tão invocada, permanece um ideal a ser construído com ações decisivas, e não apenas com discursos harmoniosos.
A construção de uma cultura democrática baseada na escuta mútua e na inclusão só será possível se o diálogo for acompanhado de mudanças reais. Até lá, o país seguirá entre a esperança e a expectativa crítica.