𝗖𝗗𝗗 𝗖𝗼𝗻𝗱𝗲𝗻𝗮 𝗼 𝗦𝗶𝗹ê𝗻𝗰𝗶𝗼 𝗱𝗮 𝗝𝘂𝘀𝘁𝗶ç𝗮 𝗡𝗼 𝗰𝗮𝘀𝗼 𝗱𝗼 𝗕𝗹𝗼𝗴𝘂𝗲𝗶𝗿𝗼 𝗠𝗮𝗻𝗼 𝗦𝗵𝗼𝘁𝘁𝗮𝘀

Por Jornal Creator 

O que seria mais uma transmissão rotineira transformou-se em tragédia nacional. Albino José Sibia, conhecido nas redes como “Shottas”, um jovem blogueiro moçambicano, foi mortalmente alvejado a tiros pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia da República de Moçambique (PRM), no dia 12 de dezembro de 2024, enquanto fazia uma live em sua página no Facebook.

A morte aconteceu na vila fronteiriça de Ressano Garcia, quando agentes da UIR tentavam dispersar um grupo de cidadãos que se encontravam nas bermas da estrada, próximo à fronteira com a África do Sul. Testemunhas relataram que os agentes lançaram gás lacrimogéneo, inclusive para o interior de residências, e dispararam munições reais — uma dessas balas acabou por atingir Albino Sibia, que naquele momento registava em vídeo os abusos cometidos.

TESTEMUNHAS E REVOLTA POPULAR

A população local ficou em choque com a brutalidade do ato. "Ele só estava a filmar, não fazia mal a ninguém", contou um residente da vila que preferiu não se identificar. “Toda a gente via os vídeos do Shottas. Ele era a voz do povo.”

O vídeo da transmissão ao vivo rapidamente se espalhou pelas redes sociais, mostrando os momentos que antecederam o disparo fatal. Internautas, organizações de direitos humanos e ativistas se manifestaram exigindo justiça e responsabilização dos agentes envolvidos.

RESPOSTA JUDICIAL E PRESSÃO INTERNACIONAL 

Diante da comoção pública e da pressão de organizações civis, o Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) formalizou uma ação judicial contra o Estado moçambicano no Tribunal Administrativo (TA), no dia 30 de dezembro de 2025. A ação exige não só a responsabilização dos autores do crime como também reparação moral à família do jovem.

"O assassinato de Shottas é um reflexo trágico da impunidade policial em Moçambique", declarou o CDD em nota oficial. "Estamos perante uma clara violação dos direitos humanos e do direito à liberdade de expressão."

O SILÊNCIO DAS AUTORIDADES

Até o momento, a PRM não emitiu um pronunciamento oficial sobre o caso. A ausência de explicações públicas reforça a desconfiança da população em relação às forças de segurança e às instituições de justiça.

LEGADO DE SHOTTAS

Albino Sibia, mais do que um simples blogueiro, tornou-se símbolo da resistência digital e da liberdade de expressão em Moçambique. Seus vídeos denunciavam irregularidades, expunham realidades marginalizadas e conectavam uma juventude cansada da violência e da censura.

A sua morte, brutal e injustificada, acende um alerta urgente sobre os limites entre segurança pública e abuso de poder. A luta agora é para que sua voz, silenciada a tiros, continue ecoando em prol da justiça e da democracia.