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Em meio às tensões políticas que marcaram a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), uma narrativa curiosa e reveladora ganha destaque: a reviravolta na percepção sobre o uso do Judiciário como instrumento legítimo de contestação política. O comentário do jurista e analista político Dinis Tivane, publicado recentemente, lança luz sobre um episódio que expõe as contradições dentro da elite política e jurídica do país.
Segundo Tivane, em 2023 e no início de 2024, um "certo Homem" — cujo nome não é mencionado, mas cuja figura é bem conhecida nos bastidores — foi duramente criticado por acionar o Judiciário contra membros de sua própria formação partidária. Foi acusado de judicializar a política, ato que muitos viam como sinal de fraqueza ou traição interna. "Coisas de dentro de casa são para se resolver em casa", diziam seus colegas, enquanto juristas conceituados consideravam tal atitude um fracasso da política convencional.
No entanto, o cenário mudou. Em 2025, Álvaro Massingue vence as eleições na CTA com apoio decisivo do sistema judicial. A mesma classe que antes condenava a via judicial agora aplaude a coragem de Massingue, celebrando sua vitória como símbolo de renovação e legalidade. Para Tivane, esse reconhecimento tardio ignora que a vitória só foi possível graças à atuação de juízes e advogados que impediram a manipulação interna da vontade dos membros da CTA — um processo que ele chama de "Elvinização" das eleições, numa provável alusão à tentativa de perpetuação no poder do anterior presidente.
A nota termina com um alerta: que Massingue, agora presidente, não se esqueça do caminho que o levou à liderança. Que não se transforme no tipo de dirigente que um dia combateu, hostilizando adversários e ignorando os valores democráticos que o sustentaram.
Importante: A reflexão de Tivane não é apenas um desabafo ou defesa de um personagem oculto. É um espelho que expõe as incoerências de uma elite que, muitas vezes, condena a justiça quando não lhe convém, mas a enaltece quando serve aos seus propósitos. É também um apelo à coerência e ao compromisso contínuo com a legalidade como base da democracia moçambicana.
Inspirado em Dinis Tivane