"INVESTIGATIVO": Justiça trava império empresarial da filha de Nyusi com dívida milionária ao BCI

Maputo, 8 de Maio de 2025 - por Jornal Creator 

Uma das empresas que prosperou durante os mandatos do ex-Presidente moçambicano Filipe Nyusi enfrenta agora o peso da justiça. A LUXOFLEX LDA, ligada à sua filha, Cláudia Nyusi, e ao empresário Hipólito Michel Ussene, filho da presidente do Conselho Constitucional, está a ser executada judicialmente por uma dívida superior a 300 milhões de meticais ao Banco Comercial de Investimentos (BCI).


Segundo anúncio publicado no jornal Notícias, a 12ª Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo deu um prazo de 10 dias à LUXOFLEX, aos seus avalistas — Hipólito Michel Ussene e a MITRA ENERGY — para liquidarem a dívida no valor exato de 304.713.329,23 meticais. Em caso de incumprimento, os devedores devem indicar bens suficientes para penhora, conforme os termos da Execução Ordinária n.º 53/24-A. Caso contrário, perderão o direito de fazê-lo, devolvendo esse poder ao banco credor.


O processo levanta novas questões sobre o modo como a LUXOFLEX operava. A empresa foi constituída em 2010 por um grupo de investidores privados, mas em 2015 — três meses após a tomada de posse de Filipe Nyusi como Presidente — houve uma mudança drástica na composição acionista. As ações foram transferidas quase integralmente para a Dambo Investe, Limitada (99%) e para Hipólito Ussene (1%). A Dambo é co-propriedade de Cláudia Nyusi e do próprio Ussene, o que firmou o controle da empresa nas mãos dos dois jovens ligados à elite política do país.


Nos anos seguintes, a LUXOFLEX passou a figurar frequentemente como fornecedora de bens e serviços ao Estado, com contratos obtidos por concurso limitado ou ajustes diretos. Uma das operações mais polémicas foi o fornecimento de carteiras escolares no âmbito da chamada “Operação Tronco”, um projeto multimilionário envolto em falta de transparência.


Ao mesmo tempo, Hipólito Ussene apresentou-se como um visionário no setor da energia e desenvolvimento urbano, com promessas ambiciosas como a criação da Uxene City — uma cidade ecológica e inteligente orçada em 3,5 mil milhões de dólares e projetada para a zona de Marracuene. No entanto, o projeto está envolto em litígios fundiários com comunidades locais, que reivindicam direitos tradicionais sobre a terra designada para a construção.


A atual execução judicial marca um ponto de viragem. Empresas ligadas a figuras políticas poderosas que, durante anos, beneficiaram do acesso facilitado ao erário público, começam agora a enfrentar exigências legais que muitos consideram tardias. O caso LUXOFLEX poderá servir de teste à independência do sistema judicial moçambicano e ao combate ao uso indevido de poder político para fins empresariais.


Postagem Anterior Próxima Postagem