A cerimónia de abertura da semana comemorativa dos 50 anos da Polícia da República de Moçambique (PRM), realizada no último fim-de-semana na província de Nampula, chamou a atenção por um detalhe inusitado: a presença quase exclusiva de crianças no local.
Vídeos amplamente divulgados pela TV Sucesso mostram que praticamente todo o público presente no local era formado por menores de idade — a maioria em uniformes escolares, organizados de forma coreografada, como num evento ensaiado. A presença de adultos civis foi praticamente inexistente, o que levantou críticas sobre o carácter representativo da cerimónia.
Embora se tratasse de um acto público de relevância nacional, com a presença do Comandante-Geral da PRM, a maioria do público presente era composta por menores, com ausência notória de representantes da sociedade civil, organizações comunitárias ou líderes locais.
Segundo testemunhas, dezenas de crianças foram mobilizadas para acompanhar o evento, algumas vestidas com uniformes escolares e posicionadas em locais estratégicos. A iniciativa gerou curiosidade — e também preocupação — entre alguns observadores, que questionam a razão da escolha de um público predominantemente infantil para um acto de carácter institucional e comemorativo.
A situação ganhou contornos ainda mais delicados quando, ao fim do evento, um jornalista questionou directamente o Comandante-Geral da PRM sobre a pertinência de realizar uma cerimónia pública com plateia composta exclusivamente por crianças. Diante da pergunta, o comandante permaneceu em completo silêncio, sem emitir qualquer comentário, apesar de estar cercado por agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que em seguida impediram novas aproximações da imprensa.
"Foi estranho ver tantas crianças e tão poucos adultos. Dava a impressão de que o evento era mais para mostrar do que para realmente comunicar com a comunidade," comentou um morador que acompanhava de fora da área reservada.
Até o momento, não há uma explicação oficial sobre os critérios de mobilização do público. A PRM tampouco divulgou se estavam previstas outras actividades paralelas voltadas especificamente ao público infantil.
A situação lança luz sobre a forma como eventos públicos são organizados e quem, de facto, é envolvido nas actividades que visam marcar datas históricas ou fortalecer a relação entre instituições do Estado e os cidadãos.
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