As ruas da cidade da Beira voltaram a ser ocupadas pelas vozes de mulheres revoltadas, indignadas e determinadas a pôr fim a uma tragédia que se repete com frequência alarmante: o feminicídio. Só nos primeiros seis meses de 2025, 14 mulheres já foram assassinadas, um número que reflete não apenas a brutalidade do crime, mas também a omissão das instituições do Estado que continuam inertes frente a esta violência de género sistémica.
Empunhando cartazes, entoando cânticos de resistência e escoltadas por agentes da Polícia Municipal, as manifestantes caminharam pelas avenidas Armando Tivane e Samora Machel, encerrando o protesto na Casa dos Bicos. O destino não foi por acaso — ali, as vozes se voltaram para os legisladores, cobrando ações concretas, políticas públicas eficazes e leis com real capacidade punitiva para frear a onda de assassinatos de mulheres.
“Cada dia que passa o número de assassinatos de mulheres tende a aumentar, apesar desta luta que temos levado a cabo há anos”, afirmou Catarina Artur, uma das organizadoras do Observatório do Feminicídio. A frustração é evidente: “Parece que não estamos a fazer nada, porque não temos uma resposta coerente para estas mortes.”
A estatística é sombria: 25 mulheres assassinadas em 2023, 18 em 2024, e já são 14 apenas até junho deste ano. Se os números não mentem, também não mentem os silêncios das autoridades — ausentes, indiferentes ou coniventes com um sistema patriarcal que falha em proteger a vida das mulheres.
Desde 2023, quando foi realizada a primeira marcha do tipo na Beira, a mobilização feminina não cessou, mas a resposta estatal continua a ser um conjunto de promessas sem execução. A marcha de hoje é mais do que uma caminhada — é um grito coletivo contra a impunidade, uma denúncia viva de um Estado que assiste calado enquanto suas cidadãs são assassinadas.
O feminicídio não é um caso isolado, é um reflexo de uma cultura de violência estrutural que só será enfrentada com vontade política real e ação institucional firme. E enquanto essa resposta não vier, as mulheres continuarão a marchar. Porque calar já não é uma opção.
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sociedade