A crise de legitimidade do governo moçambicano ultrapassa fronteiras. No Parlamento português, a Iniciativa Liberal (IL) votou contra a ida do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a Moçambique, prevista para as comemorações dos 50 anos da independência, alegando que a sua presença legitimaria um regime "ilegal e repressivo".
A decisão surge na esteira de uma resolução parlamentar já aprovada anteriormente, que recomendava ao governo português a não reconhecer os resultados eleitorais moçambicanos — considerados fraudulentos e marcados por graves violações dos direitos humanos, incluindo assassinatos extrajudiciais, sequestros e desaparecimentos forçados de opositores e críticos do regime.
O grupo parlamentar da IL, num discurso forte e simbólico, sustentou que participar das celebrações em Maputo seria um acto de validação de um regime ilegítimo, cuja permanência no poder é garantida “pela força das armas e repressão das liberdades fundamentais”.
A IL fez questão de sublinhar que o seu posicionamento não visa desvalorizar a conquista da independência de Moçambique, mas sim preservar os valores democráticos e os direitos humanos que a própria independência deveria proteger.
Este episódio, além de reforçar o isolamento internacional crescente do governo moçambicano, coloca a diplomacia portuguesa sob pressão — entre manter relações com um Estado soberano e respeitar princípios democráticos que a própria Constituição portuguesa defende.
Com a aproximação do 25 de Junho, data da independência, o clima político moçambicano continua tenso. Para muitos analistas, a possível presença de Marcelo Rebelo de Sousa em Maputo poderá representar mais um embaraço diplomático do que uma celebração histórica.