Um cenário angustiante tem marcado os últimos dias na província sul-africana de Limpopo. Jovens moçambicanos, em busca de uma vida melhor, estão a ser detidos em massa durante operações rigorosas da polícia local contra imigrantes ilegais. O foco tem sido as chamadas “Mapulasses” — quintas agrícolas onde muitos destes jovens trabalham de forma incansável, mas agora veem seu esforço recompensado com algemas e incerteza.
Apesar de possuírem passaportes, a ausência de vistos de trabalho válidos tem sido suficiente para justificar as detenções. A ofensiva policial tem resultado na paralisação de várias atividades agrícolas, deixando os patrões — muitos deles sul-africanos — em apuros por perderem a força de trabalho mais dedicada e produtiva: os moçambicanos.
“Hoje foi um dia de loucos”, relata uma testemunha no local. “Muitos Mapulasses amanheceram sem trabalhadores. A polícia levou-os, e há quem diga que podem passar mais de seis meses presos antes de serem deportados.”
O clima entre trabalhadores estrangeiros e locais está tenso. Há queixas por parte dos sul-africanos de que os moçambicanos estariam a ocupar empregos que deveriam ser seus. No entanto, os próprios empregadores discordam. Para eles, os trabalhadores moçambicanos são indispensáveis. “São os que mais trabalham, os mais empenhados. Se eles saem, as quintas param”, afirma um agricultor da região.
Este drama humano revela uma ferida mais profunda. A contínua emigração de jovens moçambicanos em busca de trabalho evidencia uma falha estrutural interna. Moçambique, país abençoado com recursos naturais, continua a não oferecer condições sustentáveis de vida e trabalho para os seus cidadãos.
“Não podemos apenas culpar os outros”, desabafa o mesmo moçambicano que acompanha de perto a situação. “Esta crise é também reflexo do que não estamos a conseguir fazer no nosso país. Temos terras férteis, água, sol. O que nos falta é transformar tudo isso em oportunidades reais.”
O apelo agora é por soluções. Soluções que passem não só por negociações diplomáticas e apoio consular aos detidos, mas também por políticas internas que ofereçam dignidade, trabalho e esperança à juventude moçambicana — para que nenhum jovem precise enfrentar a prisão por tentar trabalhar e viver com dignidade além-fronteiras.