Para Muchanga, a proibição do cultivo organizado da cannabis não passa de um bloqueio político e ideológico, mantido por sucessivos governos que, segundo acusa, têm servido aos interesses do narcotráfico. "Quem ganha com a ilegalidade são os criminosos, enquanto o povo continua na miséria", afirmou.
A ND argumenta que Moçambique está a perder terreno face a países vizinhos como Malawi, África do Sul e Zimbabué, que já legalizaram a produção e hoje colhem os benefícios económicos da planta, gerando empregos, receitas fiscais e atraindo investimentos.
Muchanga apelida a cannabis de “petróleo verde”, apontando o seu potencial para dinamizar sectores como a indústria farmacêutica, têxtil, cosmética, construção civil, agricultura sustentável e alimentação. Segundo ele, "a cannabis não é o problema, é a oportunidade. A lei viciou mentalidades e atrasou o país".
Embora a legislação actual, nomeadamente a Lei n.º 3/97, de 13 de Março, permita o uso médico e científico da cannabis, nenhum governo avançou com a regulamentação necessária para viabilizar sua exploração económica.
A ND também citou o exemplo de Marrocos, onde, mesmo com restrições legais, a indústria clandestina da cannabis movimenta 13 mil milhões de dólares por ano e emprega mais de um milhão de pessoas. "Se o mercado paralelo gera esta riqueza, por que não legalizar e canalizar os benefícios para o bem público?", questiona Muchanga.
O partido promete realizar inquéritos presenciais nas zonas rurais e nas comunidades mais afectadas, garantindo que a consulta pública seja representativa da voz dos camponeses e das populações empobrecidas.
Especialistas alertam, no entanto, para os desafios associados à proposta, incluindo a necessidade de um quadro legal robusto, instituições fortes e mecanismos de controlo eficazes, a fim de evitar o desvio da produção para o tráfico.
Ainda assim, a Nova Democracia desafia o Estado a repensar o modelo actual: num país onde as riquezas do subsolo pouco beneficiaram o povo, talvez esteja na hora de explorar o potencial económico do que já cresce naturalmente na superfície.