“O roubado não pode beber vinho com o ladrão” – Outra População rejeita integração simbólica de Venâncio Mondlane no Conselho de Estado

 


A aproximação das cerimónias do 25 de Junho reacendeu tensões políticas em Moçambique, com foco no convite feito ao ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane para participar da 1ª Sessão do Conselho de Estado. A proposta, feita pelo Presidente Daniel Chapo, foi imediatamente recebida com desconfiança e forte rejeição por parte de uma parcela significativa da população.

Nas redes sociais, especialmente na página oficial de Mondlane, mais de 10 mil comentários foram analisados por especialistas digitais. O resultado: 87% disseram “não” à presença de Mondlane no Conselho de Estado, contra 13% que apoiam. Para muitos moçambicanos, esse gesto seria uma manobra simbólica da Frelimo para limpar sua imagem num momento de fragilidade política e institucional.


Venâncio Mondlane liderou manifestações após as controversas eleições de 2023, denunciadas por organizações nacionais e internacionais como fraudulentas. Os protestos resultaram em centenas de mortos, presos e desaparecidos. Agora, a sua possível entrada no Conselho de Estado é vista como um “abraço de afogados”.

“O mundo inteiro assistiu ao roubo eleitoral. Se agora o mesmo que gritou por justiça aceita sentar com os que o roubaram, que mensagem estará a passar?”, questiona um activista da sociedade civil.

O governo, por sua vez, insiste na imagem de reconciliação e estabilidade, precisamente no momento em que o Estádio da Machava está sendo preparado para receber 32 chefes de Estado africanos e 40 mil cidadãos. A presença de Mondlane seria utilizada como sinal de “união nacional”, segundo analistas políticos.

CRÍTICAS – Pontos de alerta:

  • 1. Instrumentalização política: A participação de Mondlane pode ser usada como arma de propaganda da Frelimo, sugerindo que “tudo está bem” no país, mesmo após denúncias graves de fraude.
  • 2. Legitimação simbólica: Entrar para o Conselho de Estado, num momento em que ainda se contesta a legitimidade do governo, pode ser lido como reconhecimento implícito da autoridade de Daniel Chapo.
  • 3. Erosão da confiança popular: Mondlane construiu sua base com base no combate à corrupção e injustiça. Estar ao lado dos mesmos que denuncia pode criar um rompimento com sua base de apoio.
  • 4. Desmobilização internacional: Organizações internacionais que ainda monitoram o processo moçambicano podem entender a presença de Venâncio como sinal de que o impasse foi resolvido, enfraquecendo as denúncias e os pedidos de auditoria internacional.

CONCLUSÃO:

Para muitos moçambicanos, a luta por justiça e legitimidade não se faz com vinho, palmas e fotografias ao lado dos opressores. O momento exige firmeza, estratégia e, acima de tudo, coerência. Entrar no Conselho de Estado, agora, seria a vitória estética da Frelimo e a derrota simbólica da oposição.


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