Mais uma vez, é o povo que paga a fatura da incompetência estatal. Há duas semanas, o preço do pão — alimento essencial para milhões — subiu dois meticais na província de Gaza, sem qualquer aviso, sem explicações públicas convincentes e sem fiscalização da qualidade.
O pão de 80 gramas saltou de 7 para 9 meticais, e o de 130 gramas passou de 10 para 12 meticais. Um aumento que parece pequeno nos gabinetes com ar condicionado, mas que está a quebrar orçamentos familiares já apertados.
“Antes gastávamos 2.700 meticais por mês só com pão. Agora são 3.600. Não dá! Reduzimos para quatro pães por dia para dez pessoas”, desabafa Atália João, mãe de família. O que era básico virou artigo de luxo.
Enquanto isso, as autoridades mantêm silêncio absoluto. Nem a Direcção Provincial da Indústria e Comércio nem a Associação dos Panificadores de Gaza quiseram prestar contas à população. O último ajuste oficial de preços foi há três anos. Ou seja, o pão encareceu sem supervisão e sem regulação pública.
Do outro lado da crise estão os vendedores, como João Mondlane, jovem universitário, cuja renda familiar depende da venda de pão:
“Antes vendíamos 150 pães por dia. Hoje, com esforço, vendemos 50. As pessoas deixaram de comprar.”
As padarias justificam-se com o aumento da farinha, energia e água. Mas o povo questiona: como é que o preço sobe e a qualidade desce? O pão está menor, mais leve e muitas vezes intragável.
O que falhou aqui não foi só o mercado. Falhou o Governo. Falhou a fiscalização. Falhou o Estado que deveria proteger o cidadão.
Num país onde o salário mínimo mal cobre alimentação básica, qual é a lógica de deixar o preço do pão flutuar sem controlo?
Não há transparência nos critérios de fixação de preços. Não há auditoria nos custos das padarias. E, pior, não há qualquer política pública para mitigar o impacto desta crise alimentar silenciosa, que torna a mandioca o novo pão de cada dia.
No meio do silêncio institucional, cresce a indignação popular, e com razão. Porque quando o Estado falha até em proteger o pão do povo, o que resta da sua legitimidade?