O comentador do programa Noite Informativa da STV, Ilídio Nhantumbo, afirmou que não é novidade, no contexto africano, o uso da política como meio para obtenção de benefícios pessoais, especialmente de natureza financeira. Nhantumbo reagia às declarações do presidente do PODEMOS, Albino Forquilha, que relacionou a disputa interna no partido à “apetência pela comida”, numa clara referência à ambição por cargos.
“Quando se vai à política, o pressuposto é servir o povo, mas temos que perceber que, antes disso, os políticos não procuram idealismo, procuram interesse económico. E isto é comum, não vamos fugir da realidade, e não acontece só com o PODEMOS, mas em outros partidos também”, afirmou Nhantumbo.
Apesar de considerar o fenómeno recorrente, Ilídio Nhantumbo alerta para que não se normalize a prática de usar cargos políticos para satisfação de interesses particulares. “Está somente a ser um hábito que não é só de Moçambique, mas os políticos devem aprender que Moçambique se pretende desenvolver como um Estado Democrático e, acima de qualquer interesse dos políticos, é preciso colocar o interesse dos cidadãos e do eleitorado em primeiro lugar”, reforçou.
Já o cientista político Jorge Matine considera que as contradições internas que emergem no PODEMOS podem contribuir para o amadurecimento do partido e melhorar a forma como este comunica com o público. No entanto, criticou a forma como o presidente Albino Forquilha tem lidado com as disputas internas.
“A forma como o Presidente do Partido se coloca, ou faz a leitura das contradições internas, parece-me que ele tem interesse em que esse nível de disputa não seja o mais cordial ou natural possível. A posição do presidente não reconhece que esse processo de competição interna deve ser visto como normal”, disse Matine.
Matine acrescentou ainda que a actual direcção do PODEMOS “não está a agir com a maturidade que deveria demonstrar, considerando a sua ambição de se tornar a segunda força política do país”.
Por sua vez, o também comentador Arsénio Cuco afirmou que as declarações de Albino Forquilha não trazem novidade, mas revelam uma abordagem imediatista ao problema. Para Cuco, nenhum partido assume publicamente que seus membros usam os cargos para benefícios próprios, embora seja uma prática observável.
Cuco comentou ainda sobre as migrações de membros entre partidos, apontando que essas movimentações visam o acesso ao poder e não resultam de divergências ideológicas. “Não seria nenhum problema se não fossem interesses económicos, porque as migrações que nós temos são migrações sem ideias (…) o único interesse que subjaz em todos os membros que fazem parte de determinado partido é justamente o acesso a cargos para ter os seus interesses satisfeitos”, afirmou.
Importa referir que Alberto Ferreira, membro-fundador do PODEMOS e candidato desistente ao cargo de Secretário-Geral, submeteu uma providência cautelar ao Tribunal Judicial do Distrito Municipal Kamavota, na última sexta-feira, com o intuito de travar a realização da segunda volta das eleições internas no partido.
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OPINIÃO | CRÍTICA POLÍTICA