A recente cerimónia de tomada de posse dos membros do Conselho de Estado ficou marcada por um silêncio eloquente: o lugar de Venâncio Mondlane permaneceu vazio.
Segundo a Constituição da República, o segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais integra automaticamente o Conselho de Estado — órgão de consulta direta do Presidente da República. No entanto, Mondlane, que concorreu em 2024 e ficou em segundo lugar, recusou-se a assumir o assento.
O gesto não foi acidental. Mondlane rejeita os resultados do escrutínio que deu a vitória a Daniel Chapo, investido como Presidente em janeiro. Classificando o processo como viciado e ilegítimo, o líder da oposição recusa participar em órgãos que, segundo ele, “normalizam a fraude”.
A sua ausência vai além de uma cadeira vazia. Representa uma quebra de tradição institucional e um sinal de crescente desconfiança na integridade do sistema político. Para muitos analistas, é a demonstração mais concreta de que os mecanismos de legitimidade em Moçambique estão a ser postos à prova.
“O Conselho de Estado perdeu uma oportunidade de mostrar pluralidade e respeito pela diversidade de pensamento político. A ausência de Mondlane é um sintoma da crise de confiança nas instituições”, afirma um politólogo ouvido pelo Canal de Moçambique.
A composição do Conselho, embora tenha integrado alguns novos nomes, permanece dominada por figuras ligadas ao partido no poder e seus aliados. O afastamento de Mondlane torna-se, assim, mais do que um protesto: transforma-se num alerta sobre a representatividade e eficácia do órgão consultivo.
Muitos moçambicanos perguntam-se se este Conselho pode, de facto, aconselhar o Presidente com independência, quando uma das vozes mais sonantes da oposição se recusa a ocupar o seu lugar à mesa.
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Política