No último sábado, Maputo parou para assistir à luta de boxe entre Lil Wayne, de Moçambique, e Dabeleza, o kudurista angolano. O espetáculo, amplamente divulgado e com forte mobilização popular, foi celebrado como um marco de entretenimento. Mas, ao mesmo tempo, no Porto da Beira, desenrolava-se um episódio bem menos festivo: a fiscalização de 111 contentores da Safetimba Import & Export, prestes a seguir para a China.
O governo apresentou o processo como uma demonstração de firmeza, garantindo que não havia madeira em toro nos carregamentos. No entanto, para muitos, tudo não passou de encenação. A exploração ilegal de recursos naturais em Moçambique — madeira, carvão e minerais — é um problema crónico, e episódios de saque continuam a ocorrer sob o olhar cúmplice do poder.
A coincidência dos dois eventos levantou suspeitas. Enquanto a população vibrava com cada soco no ringue, a narrativa oficial ganhava espaço para esconder mais um capítulo da pilhagem ambiental e económica. O entretenimento serviu, assim, como cortina de fumo.
Não é a primeira vez que o governo recorre a este tipo de manobra. A lógica é simples: ocupar o povo com festas e espetáculos para que o saque continue nas sombras. A verdadeira questão que se impõe é até quando os moçambicanos permitirão que a diversão seja usada como distração para encobrir a corrupção que corrói o país.