A Rússia está a lançar uma série de programas para incentivar mulheres grávidas de soldados a levarem a gestação até o fim — mesmo que os pais dos bebés, enviados à guerra na Ucrânia, nunca regressem.
Na linha da defesa dos “valores familiares tradicionais”, estas iniciativas visam combater o preocupante declínio demográfico russo. Um dos exemplos é o movimento “Ser Mãe”, na região de Samara, que divulgou a mensagem comovente de uma recém-nascida chamada Eva: “Nasci hoje, e o meu pai é um herói, mas nunca o vou conhecer”.
O Governo russo tem reforçado o apoio financeiro a estas campanhas. Em 2025, foram atribuídos 16 milhões de rublos (cerca de 170 mil euros) a projetos voltados para mulheres de militares. Entre eles, destaca-se o “Za lyubov” (“Pelo Amor”), lançado por Yekaterina Kolotovkina, esposa de um general e defensora do envolvimento militar russo.
Esses programas oferecem apoio psicológico, preparação para a maternidade e eventos comemorativos nas maternidades. Para participar, é necessário comprovar a ligação com militares e o estado de gravidez.
A crítica, porém, também cresce. A investigadora Sasha Talaver afirma que tais iniciativas encobrem as consequências humanas da guerra e impõem o peso emocional às mulheres. Ao mesmo tempo, restrições ao aborto tornam-se mais severas, impulsionadas por religiosos e padres ortodoxos.
A psicóloga Nadezhda Fesenko observa que, após três anos de guerra, muitas mulheres agora veem a vida com outros olhos. Ainda assim, o medo permanece: “Tenho medo por ele, medo pela gravidez, medo de ficar sozinha”, desabafa Kristina num fórum de mães.
Num país onde a guerra se mistura com maternidade, propaganda e sobrevivência, os bebés que nascem sem conhecer os pais tornam-se símbolos de um conflito que já molda gerações.