O académico e analista político Ricardo Raboco considera que o presidente interino da Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (ANAMOLA), Venâncio Mondlane, enfrenta o desafio de descentralizar o protagonismo político que hoje concentra. Para Raboco, o “capital político e carisma” de Mondlane fazem dele um polo gravitacional natural, mas a manutenção da legitimidade do novo partido depende da emergência de outras figuras fortes capazes de agregar valor.
“A vida política em Moçambique tem sido marcada pelo défice de democracia interna e pelo culto à personalidade dos líderes. Mondlane tem a oportunidade de romper com esse ciclo, porque não emergiu de uma força beligerante, mas sim de um movimento de massas, vindo das ruas”, afirmou Raboco à Jornal Carta de Moçambique.
O analista destacou ainda a mobilização popular em torno do financiamento das atividades de Mondlane, que comprova o seu enraizamento social. A criação do ANAMOLA, segundo ele, nasce também da força cívica revelada nas eleições autárquicas de 2023, onde a juventude protagonizou um movimento de contestação capaz de abalar o “status quo”.
Raboco sublinha que a frustração popular perante a Frelimo, Renamo e MDM abriu espaço para a ascensão de novas forças. O facto de o PODEMOS ter conseguido representação parlamentar graças à aliança com Mondlane é exemplo do impacto do seu capital político.
Sem acesso aos recursos do Estado, mas sustentado pela mobilização popular, Mondlane conseguiu ser o segundo candidato presidencial mais votado, além de ter convocado manifestações pós-eleitorais de uma dimensão inédita na história recente do país. Para Raboco, este contexto coloca a ANAMOLA em posição de se afirmar como novo ator relevante no cenário político nacional.