Maputo - O acidente de viação ocorrido em 12 de julho de 2024, em Maputo, que envolveu Florindo Nyusi, filho do presidente moçambicano Filipe Nyusi, expôs mais uma vez as falhas gritantes do sistema judicial e as profundas desigualdades que marcam o tratamento das elites políticas em Moçambique. O incidente, que resultou em duas crianças feridas e deixou no ar a sensação de impunidade, revela o silêncio das autoridades e coloca em xeque a credibilidade das instituições jurídicas do país.
O Acidente e o Abandono das Vítimas
O acidente aconteceu em plena Avenida Julius Nyerere, uma das principais vias de Maputo. Florindo Nyusi, ao volante de um carro de luxo, um Mercedes Brabus, perdeu o controle do veículo e atropelou duas crianças que se dirigiam para a escola. Além de ferir as vítimas, o carro ainda colidiu com outro veículo e destruiu bancas de venda no passeio. No entanto, o que mais indignou a sociedade foi o comportamento de Florindo após o incidente: ele foi retirado do local por uma viatura de escolta e abandonou as vítimas sem prestar qualquer ajuda. Esse ato não apenas demonstrou insensibilidade, mas também levantou questões sérias sobre o tratamento dado a figuras políticas de alto escalão no país.
A Crítica do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD)
O Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) não hesitou em apontar o dedo para a falta de responsabilidade e o comportamento irresponsável de Florindo Nyusi. Em suas críticas, a organização destacou que este não foi o primeiro incidente envolvendo o filho do presidente e que, mais uma vez, ele escapou ileso das consequências legais. A situação reflete um padrão preocupante de impunidade, onde a elite política parece estar acima da lei.
“O caso de Florindo Nyusi é um reflexo de um problema maior: a cultura de impunidade que permeia as instituições moçambicanas. Até quando os cidadãos comuns terão que engolir essa realidade?”, questiona o CDD em um comunicado oficial.
A organização pediu uma investigação imparcial e transparente, algo que parece ser um luxo raramente oferecido a figuras poderosas como Florindo.
O Silêncio das Autoridades Jurídicas
O maior grito de alerta sobre o caso é o silêncio das autoridades jurídicas. Enquanto a Polícia da República de Moçambique (PRM) iniciou uma investigação, a sociedade civil se questiona: será que este caso terá o mesmo destino de tantos outros, em que figuras poderosas escapam sem qualquer penalização? Organizações como a Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) alertam que o caso de Florindo será um teste crucial para a imparcialidade do sistema judicial do país. Se ele não for responsabilizado, o recado será claro: a justiça em Moçambique só serve para quem não pertence à elite.
A ativista Quitéria Guirengane foi enfática ao afirmar que a impunidade de figuras políticas está saturando a sociedade moçambicana.
“Já não podemos mais tolerar que os mais poderosos caminhem livremente, enquanto os cidadãos comuns são esmagados pela força da lei”, disse ela.
Para a sociedade civil, o caso de Florindo Nyusi é um reflexo de um sistema falido, onde os direitos e a dignidade dos cidadãos são tratados com desdém.
O Caminho para a Responsabilização
Apesar das pressões, o caminho para a responsabilização parece ser árduo. Em um país onde a classe política parece estar blindada contra qualquer tipo de punição, a esperança de justiça plena para as vítimas do acidente é remota. No entanto, a pressão popular, juntamente com o olhar atento de organizações de direitos humanos, pode ser a chave para garantir que o caso não seja abafado.
O caso de Florindo Nyusi expõe uma dura realidade sobre a desigualdade perante a lei em Moçambique. Ele também é um sinal de alerta para as instituições jurídicas do país: ou elas se comprometem com a verdade e a justiça, ou seguirão alimentando a desconfiança generalizada da população.
Enquanto isso, as vítimas do acidente, duas crianças inocentes, aguardam por justiça, mas o cenário não é nada promissor. Como sempre, a pergunta permanece: até quando o sistema de justiça em Moçambique continuará sendo um campo de proteção para os poderosos e impunidade para os fracos?