A entrada em funções de um novo Governo é, em todo o mundo, sempre um momento fértil para mudanças, ousadia e experimentações. E Moçambique não é uma excepção. Muito ciente disso, o Presidente Chapo (na altura ainda candidato) disse com forte convicção que mudaria a forma de fazer as coisas. E, de facto, decorrem actualmente movimentos ousados, cartadas criativas e experimentações audaciosas com grande potencial de mudança.
Sobre “mudança”á izia Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, /Muda-se o ser, muda-se a confiança; /Todo o mundo é composto de mudança. /Tomando sempre novas qualidades.” No entanto, na realidade nem tudo é poético assim, pois toda a mudança encontra, inevitavelmente, desafios no seu percurso. E o maior desafio de toda e qualquer mudança é a resistência, que é um acto consciente ou inconsciente caracterizado pelo medo da mudança, pelo receio do novo e pelo apego quase doentio ao hábito e ao comodismo. E o mais interessante nisso tudo é a “mente armada” dos que se opõem à mudança, dos que, mesmo vivendo em paz, travam guerras silenciosas no subconsciente contra todo o pensamento progressista, toda a criatividade e inovação e contra toda a forma nova e diferente de fazer as coisas.
Escrito por: René Moutinho, M.Sc. renemoutinho@gmail.com
Trago este tema ao debate propositadamente, pois estando o país num novo ciclo e, principalmente, estando os partidos políticos a liderarem um amplo e legal processo de “Diálogo Nacional” é urgente abordar estes aspectos. Quando em meio aos apelos à unidade nacional, diante de exortações de consolidação da paz e no contexto de mudanças criativas, ainda vemos pessoas a olharem para a sociedade, a identificarem pessoas e a rotularem-nas com base no espectro puramente político é sinal de que precisamos urgentemente de desarmar as mentes. Quando determinadas pessoas e grupos agem voluntária e maliciosamente como “polícias da ideologia política”, avaliando erroneamente perfis, opiniões e percepções, forçando conclusões divisionistas, é sinal de que alguns ainda rumam contra o ideal da construção da Nação Moçambicana.
Assim, diante disso e sobretudo na era e contexto em que nos encontramos, é preciso desarmar as mentes. E desarmar as mentes significa combater a extrema polarização partidária da sociedade. Desarmar as mentes é combater discursos políticos, quer dos partidos quer da sociedade, carregados de hostilidade, desconfiança e violência verbal. Desarmar as mentes passa necessariamente pela promoção da inclusão e tolerância políticas, demonstrando que a sociedade moçambicana não se resume a credos nem a ideologias políticas; somos muito mais do que isso.
Portanto, é altura de os líderes políticos, da sociedade civil e da população em geral estarem mais conscientes do seu papel individual e colectivo na construção de uma sociedade mais harmoniosa, unida e coesa. É altura de fortalecer o que nos une e enfraquecer o que nos separa. É altura de caracterizar os moçambicanos pela glória da sua história colectiva de luta de libertação nacional e das suas batalhas diárias pelo desenvolvimento. É altura de desarmarmos as mentes, pois já se passou meio século desde que nos armámos, lutámos e vencemos o colonialismo. Então, porquê, justamente agora, procurar inimigos entre irmãos?
Fonte: integrity Magazine