Enquanto o Governo apela ao diálogo e clama por uma abordagem “mais humanizada” nas negociações com os profissionais de saúde, o país assiste, com preocupação, a um setor cada vez mais frágil, que parece viver de promessas e paliativos. A recente declaração do Ministro da Saúde, Ussene Isse, no Parlamento, é mais uma amostra de como o discurso oficial tenta encobrir, com estatísticas e previsões, a realidade dura enfrentada diariamente nas unidades sanitárias do país.
Segundo o ministro, Moçambique dispõe hoje de 43 mil rolos de gesso — material básico, quase simbólico, na prestação de cuidados ortopédicos. A estimativa de cobertura para dois meses e a promessa de uma entrega adicional em Julho, com 368 mil rolos, soam mais como tentativa de conter danos do que como planejamento estratégico eficaz.
O próprio governante reconhece que pode haver “situações pontuais de escassez”. A pergunta que fica é: quando a escassez de materiais essenciais se torna rotina em diversos hospitais, ainda pode ser chamada de pontual?
A recomendação de que as unidades de saúde comuniquem os casos de ruptura para uma suposta correção célere parece ignorar a complexidade da burocracia do sistema e a crónica falta de meios. Faltam mais do que rolos de gesso — faltam medicamentos, equipamentos, profissionais motivados e, sobretudo, uma política de saúde pública que olhe para além das aparências.
Num contexto em que o Executivo pede paciência aos profissionais da saúde e evita respostas diretas às suas exigências, discursos como o do ministro Isse apenas reforçam a sensação de improviso e gestão reativa. O país precisa de respostas estruturais, e não apenas de garantias condicionadas a navios que ainda não atracaram.
A saúde dos moçambicanos não pode continuar a depender de "estoques mínimos" e boas intenções. É tempo de o Ministério da Saúde tratar a si próprio com a mesma urgência com que se espera que trate os doentes.
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