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Por Jornal Creator
"PODEMOS entre o discurso de integridade e as contradições do seu percurso"
O partido PODEMOS, liderado por Albino Forquilha, tem-se apresentado como a nova esperança da oposição moçambicana, defendendo um discurso de responsabilidade, lógica e compromisso com a verdade. No entanto, a prática política recente do partido, assim como o histórico do seu líder, tem revelado contradições que comprometem a imagem de renovação que tenta projetar.
Durante a 11ª sessão do Conselho Central do PODEMOS, Forquilha defendeu uma oposição “consciente” e que não diz “não por formatação”, destacando que o partido não deve se prender a rótulos ideológicos. No entanto, tal discurso parece colidir com a trajetória recente da própria liderança do partido.
Albino Forquilha foi protagonista de várias polémicas após as eleições gerais de 2024. Embora o partido tenha conseguido um feito histórico ao se tornar a segunda maior força política na Assembleia da República, este avanço foi rapidamente ofuscado por disputas internas e acusações públicas de traição política. Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado por PODEMOS, acusou Forquilha de violar o acordo político que os unia — ao permitir que os deputados do partido tomassem posse sem consulta nem coordenação, numa atitude que, segundo Mondlane, ignorava o espírito do pacto firmado antes das eleições.
Este episódio, além de expor rachas internas, levanta dúvidas sobre a tal “oposição responsável” que Forquilha afirma querer construir. É difícil sustentar uma imagem de ética e coerência quando a liderança do partido age de forma unilateral em questões de interesse coletivo e estratégico.
Outro ponto que enfraquece o discurso de Forquilha é a posição ambígua quanto à denúncia de fraude eleitoral. Por um lado, o PODEMOS afirma ter provas de manipulação dos resultados eleitorais, denunciando um suposto conluio entre a FRELIMO e a RENAMO. Por outro lado, o próprio partido aceitou os lugares no parlamento — uma atitude que contradiz frontalmente a rejeição dos resultados e enfraquece a legitimidade das suas acusações.
Mais grave ainda são os ecos de práticas que o partido alega combater. Embora não haja evidências públicas de que Forquilha tenha estado diretamente envolvido na compra de votos, houve denúncias e processos relacionados a irregularidades eleitorais e manipulação de consciências populares — práticas recorrentes em Moçambique — nas quais o partido não saiu isento de suspeitas. O ativista Adriano Novunga chegou a envolver Forquilha em denúncias ligadas à venda da vontade do povo por 219 milhões de meticais e instrumentalização do eleitorado e incoerência no posicionamento político.
Além disso, ao relativizar critérios como o grau académico para cargos de topo dentro do partido, Forquilha transmite a ideia de inclusão popular, mas também abre espaço para nomeações baseadas mais em fidelidade interna do que em competência técnica e visão estratégica. Isso pode enfraquecer o funcionamento institucional do PODEMOS e reproduzir práticas clientelistas que historicamente afetam negativamente a política moçambicana.
Portanto, o PODEMOS encontra-se num ponto de inflexão: ou transforma seu discurso em ação coerente e transparente, ou corre o risco de se tornar apenas mais uma peça no ciclo de decepções políticas que marca a história do país. A oposição responsável que Forquilha tanto proclama não se constrói apenas com palavras, mas com práticas firmes, consistentes e éticas. E, até agora, o partido ainda deve muito nesse campo.
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