Ângela Leão em Liberdade: Justiça Cumprida ou Privilégio Político?


Ângela Leão, esposa do antigo diretor-geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), deixou a prisão esta semana após ser beneficiada pelo regime de liberdade condicional.

Condenada no megaprocesso das dívidas ocultas — considerado o maior escândalo de corrupção da história de Moçambique — Ângela Leão torna-se a primeira entre os réus a sair em liberdade antes de cumprir a totalidade da pena.

A decisão, tomada em conformidade com os requisitos legais para a concessão da liberdade condicional, reacende debates intensos sobre a eficácia do sistema de justiça moçambicano. Embora esteja prevista na lei, a libertação de uma figura central num caso que lesou profundamente o Estado e afetou milhões de moçambicanos gera indignação pública.

Muitos cidadãos questionam se os mesmos critérios são aplicados com rigor a todos os reclusos, ou se há tratamento privilegiado para figuras ligadas ao poder político e económico. Para diversos analistas, o caso de Ângela Leão simboliza um padrão recorrente em Moçambique: o de processos judiciais espetaculares seguidos de finais amenos para os mais influentes.

O impacto das dívidas ocultas ainda pesa sobre o país. A confiança internacional foi abalada, os serviços públicos ressentiram-se dos cortes orçamentais e a dívida externa disparou, afetando gerações futuras. Apesar disso, o tempo parece curar não apenas a memória coletiva, mas também a punição dos responsáveis.

A libertação de Ângela Leão, ainda que legalmente fundamentada, levanta questões éticas e políticas profundas. Para muitos, não é apenas a mulher que está livre — é o sistema que, mais uma vez, mostra-se preso à seletividade.




Postagem Anterior Próxima Postagem