MrJazsohanisharma

Diálogo Nacional de Chapo Enfrenta Ceticismo em Meio a Exclusão de Mondlane e Feridas Abertas


A recente tentativa do presidente Daniel Chapo de iniciar um diálogo nacional para apaziguar as tensões políticas em Moçambique surge em meio a um ambiente de desconfiança crescente e acusações de manipulação política. Anunciado como um gesto de reconciliação após os violentos protestos pós-eleitorais, o processo já começa manchado pela exclusão de figuras-chave e pelas críticas à sua falta de representatividade.

Chapo, que chegou à presidência em março, lançou a chamada "tocha da unidade" como símbolo do novo diálogo nacional. Contudo, para muitos moçambicanos, o gesto é visto como superficial diante da gravidade da crise que o país atravessa. As manifestações que eclodiram após as eleições de outubro deixaram, segundo a Plataforma Decide, cerca de 390 mortos, em sua maioria civis abatidos durante a repressão policial. Os protestos só cessaram depois do apelo de calma feito pelo líder da oposição Venâncio Mondlane.


Apesar da magnitude da crise, o governo decidiu excluir Mondlane — o principal rosto da oposição e responsável por mobilizar multidões, sobretudo entre os jovens — do processo de diálogo. A comissão formada para liderar o processo conta com representantes de partidos políticos e da sociedade civil, mas deixa de fora aquele que, para muitos, personifica o grito de mudança.


"Deixar Mondlane de fora é excluir os milhões que ele representa", criticou Andre Mulungo, do Centro para a Democracia e Direitos Humanos. Sem a sua inclusão, cresce o risco de o processo ser visto como uma encenação de reconciliação, sem legitimidade junto aos que efetivamente exigem reformas.


O impacto económico dos protestos foi devastador. Segundo o governo, os distúrbios causaram prejuízos superiores a 500 mil dólares e a perda de 50 mil empregos num país já fragilizado economicamente, apesar do seu potencial em gás natural. Porém, para analistas como João Feijó, o maior problema não são os danos materiais, mas sim a falta de vontade política em enfrentar os verdadeiros problemas que alimentaram a crise: corrupção endêmica, nepotismo e repressão violenta.

"O Estado não quer abrir mão do controle real. O diálogo está desenhado para consolidar o poder da Frelimo, não para partilhar o poder ou fazer reformas profundas", afirmou Feijó, sintetizando o sentimento de desilusão generalizada.

As críticas também recaem sobre a falta de representatividade no processo. Wilker Dias, da Plataforma Decide, argumentou que os jovens, principais protagonistas das manifestações, estão sub-representados e descreveu o regime como opressor e avesso à mudança.

Enquanto isso, Mondlane continua a tentar legalizar o seu novo movimento político, o Anamalala, cujo nome — “Acabou” — ecoa o cansaço da população com a má gestão governamental. Os seus apoiantes mantêm firmeza. "Iniciámos algo que deve dar certo", afirma Candido Guambe, enquanto ativistas como Celia Mucondo denunciam o diálogo como "um desperdício de recursos que não vai resolver nada".


A desconfiança é ainda ampliada pelo longo prazo previsto para as negociações, que podem se arrastar até 2028, coincidindo com as próximas eleições municipais, o que levanta suspeitas de manipulação do calendário político.


Nem mesmo a "tocha da unidade", prevista para chegar a Maputo em 25 de junho — data simbólica do 50º aniversário da independência de Moçambique — tem conseguido conquistar corações. "Não se une uma nação com tochas. A unidade vem por meio de governança justa e inclusão", resume Mulungo.

O cenário atual revela um país que, apesar dos gestos simbólicos do governo, continua preso a feridas políticas profundas, onde a reconciliação verdadeira só poderá acontecer com inclusão real, coragem política e justiça social concreta.

Postagem Anterior Próxima Postagem