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Governo Lança Projecto Intermodal no Grande Maputo em Meio a Desafios Estruturais e Ceticismo Popular


O Ministério dos Transportes e Logística vai lançar, no próximo dia 23 de Junho, um projecto-piloto de transporte intermodal para a Área Metropolitana do Grande Maputo, combinando o uso de autocarros e comboios. A medida visa enfrentar os congestionamentos cada vez mais frequentes e a crónica escassez de transporte público. No entanto, a iniciativa é recebida com reservas por especialistas, utentes e operadores do sector, que temem mais uma solução improvisada sem a devida sustentação.


Segundo Fernando Andela, Director dos Transportes e Segurança, o projecto consiste em recolher passageiros de bairros periféricos por meio de autocarros e encaminhá-los a quatro estações da linha de Ressano Garcia — Matola Gare, Aniel, Machava e Liberdade — onde embarcarão em comboios rumo à cidade de Maputo.


A ideia é simples: reduzir o fluxo de viaturas nas principais vias urbanas e incentivar o uso do transporte público. Para isso, o governo mobilizou 15 autocarros e três automotoras ferroviárias, num esforço que Fernando Andela classifica como “investimento elevado”, embora sem revelar os custos exactos do projecto. Na fase inicial, os passageiros não pagarão pela utilização dos autocarros e deverão desembolsar apenas entre 15 e 20 meticais para o bilhete do comboio.

Boa intenção, execução incerta

Apesar do entusiasmo oficial, há dúvidas sobre a capacidade do governo em sustentar a iniciativa. O transporte intermodal exige integração operacional rigorosa, horários fiáveis, infraestrutura moderna e manutenção constante — requisitos ausentes na realidade do sistema actual, marcado por falhas mecânicas, escassez de peças, superlotação e gestão ineficiente.


O próprio Andela reconhece que o projecto depende da adesão popular e dos resultados da fase-piloto, que poderá ou não ser replicada nas linhas do Limpopo e de Goba. Mas críticos questionam por que não foram previamente feitos investimentos estruturais em infraestruturas ferroviárias e terminais intermodais antes do lançamento.

“Ao invés de anunciar ‘toques de mágica’ com autocarros e comboios juntos, o Estado deveria começar por resolver problemas como a pontualidade dos comboios, manutenção das vias férreas, e falta de sinalização e segurança nas estações”, comentou, sob anonimato, um engenheiro de transportes ligado ao sector.


Velhas promessas, nova roupagem

Desde a década passada, sucessivos governos anunciaram “revoluções” no transporte do Grande Maputo. Nenhuma conseguiu resultados sustentáveis. A introdução de autocarros semi-colectivos, a tentativa de integração de transportadores informais, e os múltiplos contratos de leasing de viaturas urbanas provaram-se ineficazes ou insustentáveis.

Com uma população em crescimento e um parque automóvel desordenado, o risco é o projecto tornar-se mais uma iniciativa empurrada pelo simbolismo político do que uma solução concreta para os utentes, especialmente se a expansão depender de recursos que o governo claramente não tem como manter sem financiamento externo.


Conclusão: esperança contida

A proposta do transporte intermodal é, em teoria, uma alternativa inteligente à mobilidade urbana convencional. Mas, sem um plano de longo prazo, transparência nos custos e envolvimento real das comunidades, a iniciativa corre o risco de ser mais um piloto que não descola.

Como sintetiza o urbanista Elias Mabunda: “Não basta tirar carros da estrada com autocarros e comboios. É preciso reformar o sistema como um todo. Mobilidade urbana não é espectáculo — é política pública com planejamento, orçamento e prestação de contas.”

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