Os dados, revelados pela Gemfields — a multinacional que detém 75% da MRM — mostram um desequilíbrio evidente entre o valor total gerado pela exploração e a parcela que beneficia directamente o país anfitrião. A empresa publicou recentemente este balanço com o objectivo declarado de promover a transparência nos sectores extrativos, como a mineração, petróleo, gás, madeira e pesca.
Só em 2024, a MRM arrecadou receitas na ordem dos 117,2 milhões de dólares, cerca de 7,4 mil milhões de Meticais. A actividade foi retomada em Janeiro, após uma suspensão motivada pela instabilidade social que eclodiu na região durante o período pós-eleitoral, após as eleições gerais de Outubro de 2024.
Desde que passou a controlar a maior parte da mina, em Fevereiro de 2012, a Gemfields tem promovido a MRM como um modelo de operação transparente e sustentável. Ainda assim, os números colocam em evidência as preocupações recorrentes sobre a justa repartição dos lucros provenientes da exploração de recursos naturais em Moçambique.
A discrepância entre o montante total gerado pela mina e a contribuição efectiva para o erário público levanta questões sobre os mecanismos de negociação e fiscalização dos contratos de concessão, sobretudo num contexto em que vastas populações locais continuam a viver em condições precárias, muitas vezes sem sentir os benefícios das riquezas extraídas debaixo dos seus pés.
Enquanto os rubis de Montepuez brilham nos mercados internacionais, o debate sobre a justiça fiscal e a soberania económica em Moçambique continua sem resposta clara.