A retirada das forças locais de segurança em Matandane, Meluco, abriu caminho para mais um ataque insurgente em Cabo Delgado, revelando falhas graves na estratégia de combate ao terrorismo.
Na última quarta-feira, um grupo armado, supostamente ligado ao Estado Islâmico, invadiu uma mina de pedras preciosas, provocando o abandono imediato da área por garimpeiros e camponeses locais. O ataque ocorreu apenas 24 horas após a retirada da Força Local, uma coincidência perturbadora que levanta sérias suspeitas sobre infiltrações e falhas de inteligência no combate ao extremismo.
“Nós tínhamos lá pessoal e retiramos na terça-feira. Logo ontem, eles entraram. Acho que se aperceberam”, disse uma fonte em Meluco.
Não houve vítimas confirmadas, mas o efeito psicológico foi devastador. A população fugiu em pânico, temendo que a região volte a mergulhar no terror e abandono institucional.
O que está a falhar?
Como é possível que grupos insurgentes saibam o momento exato em que as forças se retiram? A suspeita de vazamento de informação interna ou ausência de vigilância estratégica expõe a fragilidade do atual modelo de segurança.
A Força Local, composta por veteranos da luta de libertação, tem sido elogiada pela sua eficácia territorial, mas carece de logística, armamento moderno e coordenação integrada com o exército nacional e as forças estrangeiras destacadas no terreno.
Recursos saqueados, população abandonada
A mina de Matandane, situada a apenas 30 km da sede de Meluco, representa mais do que uma jazida mineral — é um recurso estratégico vulnerável à pilhagem de grupos armados. Ao permitir que insurgentes ocupem essas zonas, o Estado cede terreno económico e geopolítico, facilitando o financiamento do próprio terrorismo que combate.
349 mortos em 2024: e o Estado?
De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África, os ataques em Cabo Delgado já causaram pelo menos 349 mortes este ano — um aumento de 36% face a 2023. O número confirma que o conflito não só persiste como ganha novas frentes, mesmo após anos de operações conjuntas com apoio da SADC e de forças ruandesas.
A ausência de uma estratégia preventiva sólida, a lentidão do governo e a desarticulação entre as forças de defesa colocam a população à mercê da violência.
Um ciclo de retirada e ocupação
Cada vez que o Estado se retira, os terroristas ocupam. A pergunta que não se cala: quem está realmente a proteger Cabo Delgado? E o mais preocupante — quem está a lucrar com essa instabilidade?