UNICEF trata mais de 8.500 crianças com desnutrição grave em Cabo Delgado em meio ao terror

 


Em meio à violência armada e à crise humanitária que assola Cabo Delgado desde 2017, a UNICEF anunciou que mais de 8.500 crianças com desnutrição aguda grave foram tratadas entre março e abril deste ano. A intervenção faz parte de uma resposta emergencial que abrangeu mais de 218 mil crianças submetidas a rastreio nutricional em distritos severamente afetados pelo conflito.

Segundo a nota publicada esta sexta-feira, a agência da ONU vem trabalhando com parceiros e o apoio da Direção-Geral Europeia de Proteção Civil e Operações de Ajuda Humanitária para cobrir as necessidades urgentes de saúde e nutrição das populações deslocadas, atuando em áreas críticas como Palma, Nangade, Macomia, Mueda e Mocímboa da Praia.

A UNICEF alerta que uma boa nutrição é um direito fundamental de cada criança, lembrando que muitas das beneficiárias do programa são vítimas diretas do colapso social causado pela violência extremista que já forçou mais de um milhão de pessoas a abandonar as suas casas.

Entretanto, a presença humanitária não deve ocultar o problema de fundo: uma guerra prolongada e uma resposta estatal que continua aquém do necessário para estabilizar a região. O apoio internacional atenua o sofrimento imediato, mas a ausência de políticas públicas robustas, segurança garantida e serviços básicos sustentáveis perpetua o ciclo de crise.

Dados do Centro de Estudos Estratégicos de África revelam que só em 2024 morreram pelo menos 349 pessoas em ataques extremistas em Cabo Delgado, o que representa um aumento de 36% em relação ao ano anterior — um retrato sombrio de um território onde a sobrevivência infantil depende mais de ajuda internacional do que do Estado moçambicano.

Enquanto a UNICEF cumpre o seu papel, fica a interrogação: até quando o socorro externo substituirá a responsabilidade interna?

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