O Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, voltou a defender, esta segunda-feira, o avanço na liberalização da conta capital, uma medida que, embora vista como oportunidade para captar investimentos, levanta sérias preocupações no atual contexto económico moçambicano.
Falando nas jornadas científicas do próprio Banco Central, Zandamela destacou que uma abertura criteriosa e gradual da conta capital poderá facilitar a integração de Moçambique nos mercados globais de capitais, atraindo fluxos financeiros externos e, teoricamente, impulsionando o desenvolvimento económico.
Porém, a proposta não surge isenta de riscos. A liberalização da conta capital, caso não seja acompanhada de políticas sólidas, pode deixar o país mais vulnerável a choques externos, fuga de capitais e instabilidade financeira — realidades que já afetaram outras economias emergentes que optaram por abrir rapidamente seus mercados financeiros sem as devidas salvaguardas institucionais.
O próprio Zandamela reconheceu que o sucesso do processo dependerá de políticas macroeconómicas consistentes, estabilidade institucional e uma supervisão financeira eficaz — pilares que continuam frágeis em Moçambique, especialmente face a crises anteriores envolvendo gestão pública, escândalos financeiros e sucessivos episódios de endividamento irresponsável.
Críticos do setor financeiro apontam ainda que uma liberalização prematura poderá favorecer elites próximas ao poder, permitindo saída acelerada de capitais e aprofundando desigualdades económicas internas, num país já marcado por fortes assimetrias sociais.
Apesar do discurso otimista apresentado pelo Banco de Moçambique, a abertura da conta capital exige debate público transparente, avaliação de riscos aprofundada e forte capacidade de supervisão, sob pena de, em vez de desenvolvimento, criar novas fontes de vulnerabilidade económica.
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Economia