As acusações formais contra o opositor Venâncio Mondlane podem ter desencadeado uma reviravolta inesperada no cenário político moçambicano. De acordo com a activista e analista Fátima Mimbire, o processo instaurado pelo Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional (GCCCOT), longe de fragilizar Mondlane, pode estar a torná-lo ainda mais forte.
Na sua análise, Mimbire considera que o verdadeiro objectivo da Frelimo é impedir Mondlane de concorrer nas próximas eleições. “Agora faz todo o sentido ter a antiga Procuradora no gabinete presidencial”, afirma, numa referência à influência política sobre instituições judiciais.
Mimbire alerta que, se o processo avançar e resultar numa prisão ou condenação, Mondlane poderá alcançar o estatuto simbólico de figuras históricas como Joana Simeão ou André Matsangaíssa. “Ele vai virar herói. Pode até fazer greve de fome e transformar-se num Mandela ou Gandhi da nossa geração”, sustenta.
A activista desafia ainda a justiça moçambicana a mostrar independência, num contexto em que os tribunais foram fortemente criticados nas últimas eleições. Para ela, a única forma legítima da Frelimo vencer nas urnas seria melhorar os serviços públicos e redistribuir de forma justa a riqueza nacional.
“VM é colossal. E, graças a esse processo, tornou-se incontornável, não só na política nacional, mas também regional e internacional”, conclui Mimbire.