A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) decidiu adiar o debate sobre a liderança de Ossufo Momade para o próximo congresso do partido, previsto apenas para 2029, agravando o clima de descontentamento interno e aumentando o tom das críticas, tanto de antigos guerrilheiros como de analistas políticos.
A informação foi confirmada nesta segunda-feira (15/07) pela secretária-geral da RENAMO, Clementina Bomba, em conferência de imprensa realizada em Maputo. Segundo ela, está em preparação para este ano uma reunião do Conselho Nacional, órgão que, apesar da sua importância, não tem competência para destituir o presidente.
A tensão no seio do partido voltou à tona após um grupo de antigos guerrilheiros da RENAMO ameaçar encerrar delegações do partido em todo o país, em protesto contra a não convocação de um Conselho Nacional alargado, uma exigência que permanece sem resposta por parte da atual liderança.
Em entrevista à DW África, o analista político Hilário Chacate classificou a posição da liderança da RENAMO como um caso de “casmurrice”, alertando que o partido chegou ao seu ponto mais crítico desde a transição para o multipartidarismo. “A RENAMO já não tem onde descer mais. Está no fundo do poço”, declarou.
Segundo Chacate, Ossufo Momade — que assumiu o partido após a morte do líder histórico Afonso Dhlakama, em 2018 — não conseguiu consolidar uma liderança eficaz, nem manter a base tradicional do partido: os ex-guerrilheiros.
“Alguém dentro da RENAMO tem de ter a coragem de dizer a Ossufo Momade que ele está a matar de vez a RENAMO”, disse o académico.
A RENAMO, que durante décadas foi a segunda maior força política de Moçambique, passou a ocupar a terceira posição no cenário nacional, o que, segundo o analista, coloca em risco até a existência do partido enquanto força de oposição relevante.
Apesar das garantias dadas pela direção do partido de que as delegações continuarão a funcionar normalmente, a fragilidade interna e o desgaste da liderança continuam a preocupar observadores e simpatizantes. Para Chacate, a permanência de Momade na presidência do partido já não se sustenta, nem mesmo sob argumentos de legalidade estatutária.
“O debate não é jurídico, é político. É uma questão de legitimidade e de coragem para reconhecer que a RENAMO está a perder-se”, concluiu.
O próximo passo será a realização do Conselho Nacional, ainda sem data oficial, mas que dificilmente alterará o curso da liderança, já que apenas o congresso tem poder para destituir o presidente — evento que, segundo a atual direção, está previsto para daqui a quatro anos.