Ex-guerrilheiros da Renamo ameaçam fechar sedes por incumprimento estatutário da liderança

 


Antigos guerrilheiros da Renamo anunciaram, esta segunda-feira, 14 de julho, a retoma do encerramento das delegações do partido em todo o país. Em conferência de imprensa em Maputo, o porta-voz do grupo, João Machava, afirmou que a decisão deve-se à falta de convocação do Conselho Nacional alargado, um compromisso estatutário que a atual liderança não cumpriu, mesmo após o ultimato de 20 dias dado em junho.


Segundo os desmobilizados, a decisão de fechar novamente as sedes será executada em cada província conforme decisão local. Eles acusam a direção liderada por Ossufo Momade de silenciar as exigências dos combatentes e demais quadros do partido. A crise interna agravou-se desde maio, quando os antigos guerrilheiros ocuparam por duas semanas a sede nacional da Renamo e o gabinete do presidente, tendo sido retirados à força pela Unidade de Intervenção Rápida com recurso a gás lacrimogéneo e disparos, deixando feridos e dezenas detidos.


Durante o anúncio, os ex-combatentes deixaram um alerta ao governo e às forças de segurança para que não interfiram nos assuntos internos da Renamo, advertindo que uma eventual intromissão poderá gerar "atitudes menos desejadas". João Machava sublinhou que os manifestantes “também são pessoas e sentem dor”, e que uma reação mais drástica não está fora de hipótese se persistir a omissão da direção do partido.


A atual liderança da Renamo, sob Ossufo Momade, é contestada por má gestão, falha no pagamento de pensões e subsídios e alegada apropriação do fundo de funcionamento do partido. Desde que Momade assumiu a presidência em 2019, após a morte de Afonso Dhlakama, a Renamo tem perdido força no cenário político moçambicano. Nas eleições gerais de 2024, o partido passou de 60 para apenas 28 deputados, e Momade obteve apenas 6% dos votos na corrida presidencial, o pior resultado da história da Renamo desde a abertura democrática em 1994.


A direção do partido havia prometido realizar o primeiro Conselho Nacional do ano nos dias 7 e 8 de março, mas o evento foi adiado sem nova data, agravando a tensão interna. Os guerrilheiros exigem a reposição da legalidade estatutária e ameaçam anunciar “um novo passo” dentro de sete dias, caso não haja respostas da direção.


A situação expõe uma das maiores crises internas da Renamo desde o fim da guerra civil, encerrada em 1992 com o Acordo Geral de Paz, e reacende o debate sobre o futuro da oposição em Moçambique.

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