O antigo candidato presidencial moçambicano, Venâncio Mondlane, demonstrou publicamente o seu descontentamento por não ter sido recebido pelo Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, durante a sua recente visita à Europa. “Marcelo é da família”, disse Mondlane, revelando que pretendia abordar questões sensíveis com o chefe de Estado português, e lamentando o “vazio institucional” deixado pelo silêncio do Presidente.
Mondlane, que anteriormente já se havia reunido com Marcelo em Lisboa, destacou que, desta vez, a ausência de encontro não ofuscou a sua missão. Pelo contrário, realçou que a recepção no parlamento alemão (Bundestag) foi a mais marcante de sua carreira: “O vice-presidente interrompeu a discussão do Orçamento para me receber. Nunca vi nada assim”, afirmou.
Durante a estadia na Europa, Mondlane teve reuniões com partidos políticos de diferentes espectros ideológicos, de extrema-esquerda a extrema-direita, procurando fomentar um novo debate sobre ideologias. Para ele, “a ideologia do futuro” deve centrar-se na humanidade e romper com as categorias tradicionais de esquerda, centro e direita.
De regresso a Maputo, Mondlane foi recebido por dezenas de apoiantes no Aeroporto Internacional, por volta das 15h30. O ambiente foi de festa e agitação, com palavras de ordem como “Salve Moçambique, este país é nosso”. A escolta da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) acompanhou o percurso do político até ao centro da cidade, com registo de disparos de gás lacrimogéneo enquanto simpatizantes se aglomeravam nas ruas.
Mondlane mantém a rejeição dos resultados das eleições de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo, da FRELIMO. Desde então, o país viveu um período de instabilidade, com manifestações e confrontos que, segundo organizações não-governamentais, causaram cerca de 400 mortes. O clima de tensão foi aliviado após dois encontros entre Mondlane e Chapo, realizados em março e maio deste ano.