Moçambique volta a chorar. Em apenas um dia, acidentes de viação nas províncias de Maputo e Gaza ceifaram a vida de 37 pessoas, deixando dezenas de famílias mergulhadas em luto e revolta.
As causas oficiais ainda estão sob investigação, mas os indícios apontam para excesso de velocidade e superlotação de viaturas semi-coletivas de passageiros, transformadas em verdadeiras “armadilhas sobre rodas”. Em alguns casos, carros com capacidade para 15 pessoas circulavam com quase o dobro de ocupantes.
O mais preocupante é que muitos desses veículos passam por postos policiais sem serem fiscalizados, revelando a cumplicidade ou desinteresse de agentes que deveriam garantir a ordem nas estradas. Só quando tragédias ocorrem é que surgem operações de fiscalização, campanhas de sensibilização e discursos apelativos — ações que rapidamente caem no esquecimento, abrindo espaço para que o ciclo de mortes continue.
Outro ponto crítico é a emissão de cartas de condução. Há motoristas sem a devida preparação a guiar veículos lotados de passageiros. Documentos são emitidos de forma duvidosa, levantando a questão: quantas vidas continuam a ser sacrificadas pela impunidade de quem facilita tais licenças?
A sociedade já não pode aceitar este cenário de anarquia. Enquanto a responsabilidade recair apenas sobre os condutores, sem atacar a raiz do problema — a corrupção, a fiscalização falha e a permissividade das autoridades — as estradas moçambicanas continuarão a ser corredores de morte.
As 37 vítimas de Maputo e Gaza juntam-se a milhares de outras que, ano após ano, têm seus sonhos interrompidos pela irresponsabilidade de motoristas e a negligência das instituições que deveriam protegê-las.
