O Governo anunciou a intenção de introduzir transporte público escolar em Moçambique, numa iniciativa que deverá arrancar na Área Metropolitana do Grande Maputo. Para tal, estão em curso estudos nas escolas e universidades para avaliar quanto os estudantes gastam diariamente, quantos transportes utilizam e a sua localização. A previsão é que os resultados estejam concluídos até ao final de Agosto, servindo de base para a implementação do projecto.
Apesar da novidade, muitos moçambicanos encaram estas promessas com desconfiança. A memória recente está marcada por projectos apresentados com pompa, mas que na prática pouco resolveram. Em Cabo Delgado, por exemplo, o Executivo entregou tractores com atrelados para transporte de passageiros, iniciativa que acabou gerando críticas severas. Para vários sectores da sociedade, tal medida representa um retrocesso civilizacional e expõe a incapacidade de oferecer soluções modernas e seguras de mobilidade.
Na capital, o Governo ensaiou em Junho um sistema de integração entre autocarros e comboios, num projecto-piloto de 60 dias. Foram disponibilizados apenas 15 autocarros, número insignificante para a real dimensão da crise de transporte em Maputo e Matola. Ainda assim, o Executivo promete importar até ao fim do ano 360 autocarros para todo o país, além de seis locomotivas para reforçar a ferrovia.
Na componente aérea, fala-se em reestruturar a LAM e adquirir três novas aeronaves. No setor marítimo, prevê-se a compra de um navio balizador e de embarcações para zonas de difícil acesso, supostamente para reduzir riscos de naufrágios. Paralelamente, há mais de 30 projectos de reabilitação e construção de estradas e pontes em carteira, incluindo a recuperação da EN1 em pontos críticos.
Contudo, a grande questão permanece: será que estas medidas vão além do papel? A cada novo anúncio, o Governo acumula promessas grandiosas, enquanto a realidade diária mostra estudantes a perderem aulas por falta de transporte, cidadãos espremidos em chapas superlotados e estradas nacionais em estado precário.
As iniciativas podem até soar modernas, mas sem transparência, fiscalização séria e gestão eficiente, correm o risco de se tornarem apenas mais um capítulo no longo histórico de promessas não cumpridas.
